Conturbadas relações familiares na tela de Paulínia
Por Daniel Schenker (RJ)
As produções brasileiras exibidas na competição do 6th Paulínia Film Festival podem ser conectadas a partir de características um tanto abrangentes: certa prioridade a realizações de diretores em início de carreira, pelo menos no terreno do longa-metragem (apesar das presenças dos veteranos Domingos Oliveira e Murilo Salles), reunião de trabalhos marcados por vigor autoral, concentrado de produções do Rio de Janeiro. Mas talvez o elemento que mais aproxime os filmes aponte para o campo temático: a abordagem de relações familiares.
Em Casa Grande (foto acima), o diretor Fellipe Barbosa mostra o rito de passagem de um jovem de classe média alta. O habitualmente turbulento período da adolescência se torna mais desestabilizador para Jean (interpretado por Thales Cavalcanti) devido à transição sofrida por sua família, mergulhada em crise financeira. Mas a verdade demora a vir à tona. O pai, Hugo (Marcello Novaes, ótimo), oculta os fatos, o que acirra o conflito com Jean. E o rapaz, até então protegido numa espécie de redoma, entra em contato com um mundo novo a partir do instante em que passa a voltar da escola de ônibus – não mais de motorista. Bastante fluente, o filme perde um pouco com excessos, como o espaço destinado à discussão sobre a polêmica das cotas, que, porém, não ferem o bom resultado.
Ritos de passagem, buscas identitárias: apontamentos sobre a seleção de Paulínia
Por Luciana Veras, convidada da Abraccine (PE)
“Nada é por acaso”, vaticina um personagem de Pedro Almodóvar na sequência final de Fale com Ela. Assim, é de se supor que uma seleção de filmes em um festival de cinema possui, entre si, elos ou mesmo, por mais paradoxal que soe, algumas divergências que os unam, que os atraiam. Um tema que pode ser usado para enfeixar boa parte dos títulos em competição no 6th Paulínia Film Festival, realizado entre 22 e 27 de julho no município do interior de São Paulo, é do o rito de passagem. Outro que também se impôs após noites devotadas a dois ou por vezes três longas-metragens foi a busca por uma identidade própria.
Em sete filmes, tais eixos são trabalhados com maior ou menor ênfase; em alguns, de modo mais evidente, em outros, encobertos por outras camadas de trama, outros tecidos narrativos. Em Castanha, de Davi Pretto; Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas; Boa Sorte, de Carolina Jabor; A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante; Casa Grande, de Fellipe Barbosa; Sangue Azul (foto ao lado), de Lírio Ferreira; e Aprendi a Jogar com Você, de Murilo Salles, há sempre a travessia – rumo a uma nova fase na vida ou a uma nova versão de si mesmo.