“Carne” aborda questões femininas

Adriana Androvandi

O curta-metragem Carne, dirigido por Camila Kater (Campinas – SP), é um documentário que traz o depoimento de mulheres em diferentes fases da vida, em representações que exibem experiências com distintas técnicas de animação. Conforme a própria equipe do filme divulgou, o roteiro optou por uma metáfora que relaciona o estado de cozimento da carne com o corpo da mulher. Por isso, ao início de cada depoimento, aparece uma das seguintes palavras: crua, mal passada, ao ponto, passada e bem passada, associando-o a  faixas etárias, da infância à terceira idade. A partir da metáfora a que se relaciona, Carne traz as vozes das entrevistas para o filme. Entre elas, a da icônica atriz e cineasta Helena Ignez. A cineasta conta que desde cedo percebeu que seu corpo lhe traria limitações.

As mulheres contam a pressão que recebem no dia a dia para se encaixar nos padrões preestabelecidos na sociedade e as consequências se não o fazem. A vocalista trans Raquel Virgínia, integrante da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, relata que percebe que sua presença gera uma energia que incomoda algumas pessoas, contando como exemplo um fato ocorrido com ela em uma festa. Completam o time de entrevistadas Rachel Patrício, Larissa Rahal e Valquiria Rosa. A preocupação com o peso corporal começando desde a infância até a manutenção do útero na fase adulta estão entre outros aspectos abordados.

Carne consegue abordar a temática feminina, em seus aspectos muitas vezes difíceis e dolorosos, com uma estética que alterna cores intensas e esmaecidas, conforme a técnica usada em cada sequência, sem deixar de trabalhar o humor. A ironia se torna um elemento que faz o espectador e a espectadora serem mais facilmente atingidos pela mensagem. Muitas vezes rindo de situações tragicômicas, nos damos conta de que elas não estão tão distantes como parecem à nossa volta.

No Festival de Cinema de Brasília, Carne levou o troféu de Melhor Filme de Curta-Metragem pelo Júri Popular e pelo Júri da Crítica (este concedido por três mulheres da Abraccine). Tendo sido um evento que congregou mulheres em protestos dentro e fora do Cine Brasília, o curta-metragem se tornou mais uma voz no coro que pediu mais respeito e igualdade para as mulheres. O filme também teve participação em festivais internacionais, tendo recebido o prêmio de Melhor Curta no Festival de Havana. Destaque dentro e fora do Brasil, Carne integra a lista dos dez curtas mais votados entre os melhores de 2019 por membros da Abraccine.

 

 

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