Dossiê Fest Aruanda: Faixa de Gaza

Flávia Mayer *

Expoente da chamada Primavera do Cinema Paraibano, Faixa de Gaza foi selecionado para a 14ª edição do Fest Aruanda, em sua disputada mostra competitiva Sob o Céu Nordestino. Trazendo produções realizadas por cineastas nascidos no Nordeste ou filmadas na região, a mostra contou com uma ousada e interessantíssima lista de longas e curtas-metragens, entre documentários e filmes de ficção.

Dentre os curtas, Faixa de Gaza se destacou pelo questionamento quanto a realidade sociológica das periferias brasileiras e pela direção potente de Lúcio César Fernandes, ganhador do prêmio de melhor direção de curta-metragem. Tendo como pano de fundo a rivalidade entre gangues, a narrativa contraria a linearidade de causas e efeitos, nos conduzindo através da ótica de três personagens arquetípicas, representando sujeitos muitas vezes invisíveis dos centros urbanos.

A primeira delas é Cícero, interpretado por Marcelo de Souza. Como em tantas outras histórias de jovens de periferia, Cícero deseja integrar o sistema simbólico das gangues: ser reconhecido, respeitado e pertencer a um grupo que se defende. A concretização deste desejo, no entanto, esbarra no imperativo de um comportamento violento – fator crucial para a visibilidade dos membros daquele grupo. Conflito e busca por reconhecimento passam, então, a se mesclar nas ações de Cícero, espelhando mais uma das facetas desta violenta realidade.

Nazaré, outra personagem arquetípica, é interpretada de maneira bastante competente por Marcélia Cartaxo. Pessoa comum, a moradora de um conjunto habitacional é subitamente surpreendida e desviada de sua vida cotidiana, passando a viver uma situação de horror. Já Naldim, jovem recém chegado à capital Paraibana e interpretado por Rafael Paiva, representa a aleatoriedade da violência em um cotidiano exposto à disputas territoriais.

O filme é bastante interessante na maneira como constrói um ambiente conflituoso, não apenas pelo estilo do diretor – e pela forma como retrata este microcosmo para nos projetar a um panorama brasileiro mais amplo –, mas também pela ambientação sonora cuidadosa, que rendeu o prêmio de melhor som a Diogo Rocha. Destaca-se também a interpretação de Paulo Phillipe, que sagrou-se vencedor do prêmio de melhor ator ao interpretar Mago, o chefe de uma das gangues.

À vista de tudo isso, Faixa de Gaza deixa uma boa impressão no espectador e faz jus à sua escolha como vencedor do troféu pelo Júri da Crítica.

* Flávia Mayer integrou o júri Abraccine do 14º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro

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