
Os cineastas premiados na cerimônia de encerramento: ato democrático. Crédito: Junior Aragão/Divulgação.
Por Amanda Aouad (BA)
Um caso curioso e inédito chamou a atenção na noite de premiação de Brasília. Os seis diretores dos longa-metragens participantes da Mostra Competitiva decidiram dividir em partes iguais os R$ 250.000,00 do prêmio principal. Entre outras questões, alegaram a imensa diferença deste para os demais prêmios. E que a curadoria deste ano teria escolhido obras bastantes diversas com capacidade de discussão de linguagem tão interessante, que todos mereceriam, até para ajudar no processo de distribuição. Isso demonstra o clima amigável que dominou os sete dias de festival e, por mais que pareçam distintos, a sintonia entre os realizadores presentes.
Os seis longa-metragens da Mostra Competitiva tinham muitas questões em comum. A principal delas é que todas flertam com uma certa mistura entre documentário e ficção. Mesmo Sem Pena, que é o mais documental de todos, traz elementos da ficção, principalmente na montagem e escolha de símbolos para ilustrar o que os depoentes dizem. E um filme teoricamente totalmente ficcional como Ela Volta na Quinta, traz a família do diretor interpretando a si mesmo em um timming extremamente documental. Da mesma forma que Ventos de Agosto que coloca, inclusive, o diretor em cena como um “medidor de ventos”, no momento mais documental da obra.
Branco Sai. Preto Fica, então, tem em sua essência essa mistura ao trazer elementos da ficção científica em uma Brasília futurista para retratar o passado e o presente de exclusão de uma sociedade. E Pingo D´água também trabalha esses limites ao utilizar a metalinguagem encenando a própria construção do longa e as discussões filosóficas por trás dos personagens. As cenas de Jean Claude Bernardet na janela, por exemplo, demonstram bem isso.