
Cena do documentário Sem pena (SP), de Eugênio Puppo: crônica sobre o sistema prisional brasileiro: Crédito: Guilherme Freitas/Divulgação.
Por Luciano Ramos (SP)
No evento de abertura 47 Festival de Brasília, foi exibido filme Deus e do Diabo na Terra do Sol, com cópia recém-restaurada, na gigantesca tela do Cine Brasília. É a projeção digital mais ampla do país e uma das tecnicamente mais perfeitas. As pessoas que viram o filme em seu lançamento se emocionaram até mais do que os jovens que o estavam assistindo pela primeira vez, podendo perceber detalhes insuspeitados na obra de Glauber Rocha. A competição começou bem, com Sem Pena, documentário paulista de alto nível, dirigido por Eugênio Puppo, ele que fez filmes sobre Ozualdo Candeias e Carlão Reichenbach, dois grandes cineastas de São Paulo. O longa metragem traz olhar aprofundado sobre o sistema prisional do país.
O filme investiga as entranhas desse sistema e procura entender porque a nossa população carcerária é a maior do mundo e porque o Brasil é o país que mais encarcera, no sentido em que é o que mais rapidamente manda suspeitos e criminosos para a cadeia. O filme é patrocinado por uma ONG fundada por advogados que militam pela proteção ao direito de defesa e, portanto, tem como alvo principal os promotores públicos e os juízes. Como escrevi antes da premiação em que foi premiado pelo júri popular, porém, é o que apresenta mais condições de atrair a atenção do público em geral. Principalmente pela gravidade das denúncias que apresenta e pelo cuidado da produção que inclui uma trilha sonora baseada em oposições de John Cage e uma fotografia inspirada o livro O processo, de Franz Kafka.