Crítica: Não sou Lorena
Por Robledo Milani
Olivia está cansada de viver às sombras dos outros. Filha única de Eleonora, senhora que sofre de Alzheimer, é seguidamente preterida pela empregada Patrícia, a dama de companhia da mãe e quem, de fato, cuida dela. Atriz, segue trabalhando com o ex-marido, Mauro, o diretor do espetáculo que estão ensaiando, ainda que os dois estejam sempre em conflito. Ignorada no prédio onde mora, mal conhece o vizinho travesti e é tratada como uma desconhecida pelo zelador. Mas as coisas pioram de vez quando começa a receber ligações de cobrança em nome de Lorena. “Você precisa pagar o que deve, Lorena”, informam os mais diversos reclamantes, surdos ao apelo da garota. Não Sou Lorena é o que ela diz a todos e também a si própria, repetindo até o ponto em que a própria exaustão a coloca em dúvida. Afinal, se não for ela, quem seria essa mulher?
A vida de Olívia possui tons cinzas. Morando sozinha em um apartamento maior do que as suas necessidades, possui poucos móveis para preenchê-lo após a separação, já que o ex-marido levou as coisas que eram dele. Estranha na casa de sua infância, tenta impor alguma autoridade diante a serviçal, sem o menor sucesso: afinal, sem a ajuda desta – que é consciente da sua importância – como as coisas poderiam se arranjar? E o trabalho no palco vai de mal a pior, sem conseguir se entender com o autor da peça, numa relação confusa que envolve arrependimentos e descasos artísticos. Algumas coisas, no entanto, passam a movimentá-la. Quando o colega de cena decide convidá-la para sair, o ciúme começa a se manifestar no ambiente profissional. Assim como quando a porta do apartamento ao lado do seu se abre e aquela figura exuberante, que ora é Paco, noutra atende por Rosseta, decide baixar a guarda e uma interação entre eles surge. Parece ser o momento certo para Olivia finalmente se assumir e mostrar quem é. Mas Lorena está no seu caminho. Leia mais aqui