Dossiê Prêmio Abraccine 2019: TOP 10 Filmes Brasileiros

MELHOR FILME

Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

DESTAQUES (em ordem alfabética):

Democracia em Vertigem, de Petra Costa

Democracia em Vertigem registra um período sombrio, controverso e revelador da nossa história e, daqui algumas décadas, será conteúdo escolar.”
Bianca Zasso

“Assumindo sua subjetividade, ela se posiciona enquanto personagem e narradora, ao passo que entrevista a própria a mãe, militante presa pela ditadura.”
Bruno Carmelo

“E o maior mérito do Democracia em Vertigem de Petra Costa é mostrar como essa dor pessoal não é só parte intrínseca da tragédia, ela é a tragédia.”
Daniel Oliveira 

“Na camada metafórica, é a imagem do vazio que carrega significado mais profundo, para além da manjada e devassa relação entre empresários da construção civil e os governos, de direita e de esquerda.”
Ivonete Pinto

“O que temos, então, é a visibilidade da relação do indivíduo com a realidade, a partir do olhar de quem produziu essas imagens, e que se coloca em primeiro plano.”
Luiza Lusvarghi 

“Pois se a democracia está em vertigem, em crise ou em risco, Democracia em Vertigem nunca se põe verdadeiramente em risco, nunca provoca de fato o espectador para as contradições de seu momento histórico ou para o papel e a função das imagens.”
Marcelo Ikeda

“Aliás, Petra Costa ensaia fazer das contradições internas de sua família um microcosmo do país cindido em dois por conta de uma série de estratagemas midiáticos, econômicos, judiciais, etc.”
Marcelo Muller 

“Mais do que tudo, o sentimento de angústia da diretora pode ser compartilhado por todo e qualquer espectador com um mínimo de sentimento democrático.”
Neusa Barbosa

PODCAST
Cinema na Varanda, com Chico Fireman
Cinematório Café, com Renato Silveira
Feito por Elas, com Isabel Wittmann

Deslembro, de Flávia Castro

“A opção por não se prender apenas nas descobertas relacionadas à época da ditadura é certeira e garante a identificação por parte do espectador mais jovem.”
Bianca Zasso

“Determinadas explicações sobre a ditadura no Brasil soam didáticas demais, e o roteiro depende demais dos diálogos para avançar.”
Bruno Carmelo 

“Mais do que um filme sobre memória, ele é a história de uma menina que tem suas memórias roubadas.”
Daniel Oliveira

“No ambiente doméstico, a babel é deflagrada pelos diálogos que se dão em português, francês e espanhol, às vezes ocorrendo a mescla de idiomas numa mesma frase, um procedimento sintomático e muito bem articulado.”
Marcelo Muller

“O foco está na geração da garota Joana, que cresceu sob o impacto das escolhas dos pais e teve que fazer seu próprio rumo, num país igualmente fragmentado.”
Neusa Barbosa 

Divino Amor, de Gabriel Mascaro

“A provocação do filme de Gabriel Mascaro vale, especialmente para o momento que estamos vivendo no Brasil.”
Antonio Carlos Egypto 

“É engraçado por ser absurdo; é terrível por não ser tão absurdo assim.“
Bruno Carmelo 

“É uma síntese perfeita do que o ser humano procura na religião: um código de regras que dê algum sentido ao mundo.”
Daniel Oliveira 

“Afinal, se o pensamento político hoje se enraizou “naquilo que é”, o sétimo longa de Gabriel Mascaro toma por missão imaginar um “vir a ser” que difere (do) e se assemelha (ao) nosso momento histórico, de modo que o fertiliza.”
Juliano Gomes 

“Nesse sentido, uma das estratégias mais instigantes do filme é a escolha do seu ponto de vista, do seu universo de interesses.”
Kênia Freitas 

“Uma discussão importante dentro da narrativa é como esta fé é usada para colocar os corpos  a serviço de uma estrutura social que traça um mundo aparentemente sem desvios, um lugar que nega espaço a qualquer dúvida, subjetividade ou mistério – o que não passa de uma tática de controle, inclusive político.”
Neusa Barbosa 

“Para além do panorama das transformações da sociedade brasileira, DIVINO AMOR busca compreender os dilemas de sua protagonista.”
Marcelo Ikeda 

“O realizador é hábil no desvelamento desse novo tecido social cerzido pelas diretrizes da fé irrestrita num salvador onisciente.”
Marcelo Muller 

PODCAST
Cinema na Varanda, com Chico Fireman

Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes

“Como um filme que se constrói ao caminhar sobre o tema e ao encontrar elementos novos a cada passo, a narrativa se estabelece à medida em que é capaz de ouvir o outro com atenção e, de algum modo, interagir,  participar e intervir no seu objeto de estudo.”
Antonio Carlos Egypto 

“A beleza que Gomes imprime nas cenas é triste. Sim, o belo nem sempre acalenta nosso coração.”
Bianca Zasso 

“Estas cenas, repetitivas, dedicam-se a apresentar de modo um tanto imediato a rotina dos operários.”
Bruno Carmelo

“Com uma narração em off que dialoga com quem assiste, o diretor retrata com proximidade e não sem espanto alguns aspectos da realidade econômica local.”
Isabel Wittmann 

Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar oscila entre observações implícitas e outras explicitadas, ora pela narração, ora pelos personagens que oferecem ao longa seus testemunhos.”
Marcelo Muller 

“Esse processo, bastante bem construído pelo roteiro, atinge seu ápice quando se descobre o significado do carnaval para o povo de Toritama.”
Maria Cau

“Ao lado do sonho do negócio próprio e de uma casa, no entanto, resta um outro que define todo o modo de vida local e, de certa forma, o contradiz.”
Neusa Barbosa 

Inferninho, de Guto Parente e Pedro Diógenes

“O filme e o lugar poderiam muito bem se chamar Purgatorinho, pois é nesse estabelecimento que um grupo de personagens fica a espera de algo que mude o seu destino, traga novo fôlego para suas vidas.”
Alysson Oliveira 

“A maior qualidade se encontra na rica ambientação do bar. Partindo de um local teatral, com aparência de estúdio, a direção de arte constrói uma aparência decadente, mas que aspira ao refinamento.”
Bruno Carmelo 

“O artificialismo emerge como escape, mas também como único caminho para encontrar a verdade, a realização.”
Luiza Lusvarghi 

“Quando as situações curiosas se tornam banais, e aquele mundo se ancora, o filme vacila um tanto até chegar a um desfecho satisfatório.”
Maria Cau

Inferninho é comovente, pois representa talvez o mais alto estágio de amadurecimento desse coletivo cinematográfico, momento que representa justamente o seu fim.”
Marcelo Ikeda 

“No longa-metragem de Guto Parente e Pedro Diógenes, esse espaço de exceção comporta a presença dos tipos excêntricos, que, portanto, formam uma paisagem bastante peculiar, embebida num clima de fantasia decadente, porém, constantemente atravessada pelo romance que a enternece.”
Marcelo Muller 

Inferninho apresenta para o espectador um universo fantasioso e decadente com extrema sensibilidade.”
Vitor Búrigo 

VIDEOCAST
Bia na Toca, com Bianca Zasso 

No Coração do Mundo, de Gabriel Martins e Maurílio Martins

“Mesmo lidando com temas fortes, há simplicidade e afeto em tela. As personagens são complexas, não podendo se encaixar apenas em boas ou más, mocinhos ou vilões.”
Amanda Aouad 

“E No Coração do Mundo muda o registro para entrar num mundo hollywoodiano de filme policial, de suspense e ação, fazendo assim uma combinação de realismo e espetáculo de gênero, que surpreende, mas funciona.”
Antonio Carlos Egypto 

“Os diretores usam a trama e esse mosaico de conexões para mostrar como cada um desses personagens ilustra um aspecto diferente daquele lugar.”
Daniel Oliveira 

“Com o peso do trágico que a inércia como necessidade de se manter em movimento trouxe a todos os outros personagens de No Coração do Mundo, a tendência à mesma aceitação de Miro é plena.”
João Paulo Barreto 

“Um pouco traído pelas promessas de um ritmo inicial vibrante do filme, ao espectador cabe lidar com o fato de que Contagem é o Texas, não Hollywood.”
Kênia Freitas 

“O percurso paulatino é ilustrado com muita acuidade pela dupla que faz da fruição desse processo uma viagem multifacetada e prazerosa.”
Marcelo Muller 

“Por outro lado, nota-se um visível desequilíbrio na narrativa, que oscila de modo um pouco inseguro na primeira metade, até finalmente engrenar para esta mais resolvida porção final.”
Neusa Barbosa 

PODCAST
Cinema na Varanda, com Chico Fireman
Feito por Elas, com Isabel Wittmann 

Los Silencios, de Beatriz Seigner

“Diferente de outros realizadores, que insistem em ter como base o universo fantástico americano ou europeu para criarem suas histórias, Seigner aproveita o natural encantamento das crenças do povo latino para conduzir sua trama.”
Bianca Zasso 

“Trata-se de um cinema que deseja unir poesia e conscientização, fazendo da arte um veículo de melhorias sociais.”
Bruno Carmelo 

“A presença fantasmagórica destes desaparecidos é materializada com um toque surreal, fantástico, que nunca encobre a tragédia de acontecimentos reais.”
Neusa Barbosa 

“Em Los Silencios, muito se debate a partir do que é dito, e, mais ainda, daquilo que imaginamos saber de antemão, em um jogo intrincado em que mesmo o que é visto pode não ser confiável.”
Robledo Milani 

“Ainda que dialogue com outras filmografias, seu longa consegue imprimir uma identidade própria e, nesse processo, apresenta os personagens em profundidade, destacando o que há de universal nos conflitos delineados no roteiro.”
Susy Freitas

Temporada, de André Novais Oliveira

“A construção de Temporada não está em uma curva dramática bem delineada, mas nesse acompanhamento diário das personagens, seu pequenos dilemas, suas pequenas conquistas.”
Amanda Aouad

“O objetivo do diretor, no entanto, priorizou a personagem em processo de adaptação e mudança, alçando-a ao primeiro plano.”
Antonio Carlos Egypto

“É um pedaço do Brasil que está muito perto, mas que por parecer simples demais diante das “grandes aventuras” do cinema, parece não render uma boa história.”
Bianca Zasso

Temporada revela um artesanato rebuscado e um amor maior que o mundo pelas pessoas e pelas cidades onde vivem.”
Bruno Carmelo 

“Há um ganho emocional inegável no novo longa, sobre uma mulher que troca de cidade para assumir um emprego público e precisa adaptar a tudo o que ganhou e tudo o que perdeu com essa mudança.”
Chico Fireman 

“O céu não é tão longe, indica Novais Oliveira. Não é apenas uma miragem, como era o de Suely, nem alcançado a fórceps, como foi o caso das baronesas da Vila Mariquinhas, em Belo Horizonte.”
Daniel Feix

“Assim, em Temporada esse paralelismo de corpo e espírito mostra-se sobretudo na relação de cumplicidade construída entre a direção de André Novais Oliveira e a atuação de Grace Passô, como Juliana.”
Kênia Freitas 

“Enquanto tenta estruturar ali uma nova vida para si e para o marido, que espera chegar, ela vai se entrosando com a nova rotina e os colegas de trabalho, em especial Russão.”
Maria Cau

“Em seu registro quase documental, com planos fixos, muitas vezes, abertos, e poucos giros e movimentações de câmera, sua lente prima a observação do corriqueiro, filtrando a realidade com sua discreta ficção.”
Nayara Reynaud

“Neste sentido também, Temporada afirma uma identidade, tomando, por assim dizer, o pulso de cidadãos que normalmente ficam invisíveis, maioria silenciosa, mas capazes de tantas coisas que só uma câmera sensível quanto a de André consegue colocar em evidência.”
Neusa Barbosa 

“André humaniza sua terra e por extensão contempla uma população mais ampla, historicamente mal representada nas telas pelo olhar forasteiro que vê os mineiros como capiaus iletrados e abobalhados.”
Renato Silveira 

Temporada, portanto, é isso: o momento de dar adeus ao que não mais tem volta e de preparo para aquilo que vem a seguir.”
Robledo Milani 

A Vida Invisível, de Karim Aïnouz

“Em uma sociedade paternalista e quase sempre machista, a sensação é de que a mulher não existe enquanto ser individual, estando sempre em função de uma figura masculina.”
Amanda Aouad 

“A forma de melodrama populariza, mas está a serviço de uma discussão profunda e realizada com grande competência.”
Antonio Carlos Egypto 

“Saímos da sala de exibição com o coração arrasado. Eis o melodrama cinéfilo perfeito.”
Bianca Zasso 

“O ponto de vista orgânico funciona devido a um trabalho excepcional de fotografia, direção de arte, som e montagem.”
Bruno Carmelo 

“A história das duas irmãs Eurídice e Guida é apresentada em cores fortes e contrastes, numa mescla de metáforas e literalidades.”
Cecilia Barroso 

“Elas estão invisíveis uma aos olhos da outra, mas suas presenças têm força e, graças à câmera de Aïnouz, uma digna visibilidade diante do espectador.”
Daniel Feix 

A Vida Invisível é a história de Eurídice e de Guida, mas é a história de nossas mãe e avós, e a nossa, que nunca termina.”
Isabel Wittmann 

“Demarcando a passagem cronológica às vezes abruptamente, assim acentuando o que o transcorrer dos anos adensa, o realizador apresenta o infortúnio da separação que as define de modo indelével.”
Marcelo Muller 

“A verdadeira vida invisível das personagens é composta dos momentos em que elas foram felizes, em que sonharam, em que desejaram, em que riram sem parar.”
Maria Cau 

A vida invisível é um primor em suas elipses, em seus não-ditos, em seus saltos temporais, sem que nada se perca, nada sobre fora do lugar e nenhuma pieguice se infiltre.”
Neusa Barbosa 

“Muitas vezes, corpos e cabeças das irmãs aparecem cortados ou obstruídos por obstáculos, como o tenso “quase encontro” vislumbrado através de um aquário.”
Susana Schild 

PODCAST
Cinema na Varanda, Chico Fireman e Isabel Wittmann

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s