Alguns balanços de 2011

 

Ainda um tanto incipiente, a Abraccine – Associação Brasileira dos Críticos de Cinema e os editores de seu blog ainda não conseguiram organização total – e força na cobrança – na hora das tentativas de aglutinação mais densa e caudalosa de textos para matérias específicas. Talvez o final de ano e festas tenham interferido e impedido mais contribuições ante o aguardado para a matéria com balanços do que ocorreu no cinema, no Brasil, em 2011. De todo modo, os que obtivemos, por generosidade dos que os cederam, conseguem traçar um perfil interessante do que a crítica pensa: mas mais interessante ainda é notar o quanto essa crítica não é única, e como os olhares divergem, mesmo partindo de olhares abastecidos, a princípio, com critérios e metodologias de análise.

Fica então um bom aperitivo, no aguardo da primeira votação da entidade para definir os melhores filmes de 2011.

 

Por Sérgio Rizzo (colunista do Yahho Cinema)

O cinema, todos sabemos, nos oferece uma imensa janela para o mundo. Na seleção abaixo, com 10 dos principais filmes lançados comercialmente nos cinemas do Brasil em 2011, temos uma pequena amostragem de como foi diversificada a produção internacional oferecida ao espectador. Seis desses filmes já estão disponíveis em DVD, e quase todos os restantes devem ser lançados no início de 2012.

Veja a lista, em ordem alfabética:

A Árvore da Vida (The Tree of Life): o diretor norte-americano Terrence Malick (Cinzas no Paraíso, Além da Linha Vermelha), muito próximo à obra do filósofo existencialista alemão Martin Heidegger, recebeu a Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes deste ano com um drama familiar que promove reverberações espirituais, incluindo conexões com o surgimento da vida no universo e com a ideia de eternidade. Já disponível em DVD.

Bravura Indômita (True Grit): já adaptado em 1969, com John Wayne no papel principal, o romance de Charles Portis ganhou dos irmãos norte-americanos Joel e Ethan Coen (Fargo, Onde os Fracos Não Têm Vez) uma transposição mais realista. Jeff Bridges interpreta um xerife durão do Velho Oeste, contratado por uma adolescente (Hailee Steinfeld) para encontrar o assassino de seu pai. Já disponível em DVD.

Cópia Fiel (Copie Conforme): encontros inesperados em um filme sobre verdades e mentiras, homens e mulheres, desejos e frustrações: o diretor iraniano Abbas Kiarostami (Gosto de Cereja) reúne a francesa Juliette Binoche (prêmio de melhor atriz em Cannes-2010) e o barítono britânico William Shimell na Toscana (Itália), onde brinca com cenas de um casamento — ou de muitos casamentos. Já disponível em DVD.

O Garoto da Bicicleta (Le Gamin au Vélo): habituados a tratar de irresponsabilidade paterna e de dilemas morais na sociedade contemporânea, os irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne (O Filho, A Criança, O Silêncio de Lorna) examinam os laços entre um menino abandonado pelo pai (Thomas Doret) e a cabeleireira que procura ajudá-lo (Cécile De France, de Além da Vida). Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano.

O Homem ao Lado (El Hombre de al Lado): a intolerância e o preconceito pautam o relacionamento entre vizinhos que até então não se conheciam, em Buenos Aires, quando um deles (Daniel Aráoz) abre uma janela com vista para a casa do outro, um designer de prestígio internacional (Rafael Spregelburd). Dirigido por Mariano Cohn e Gastón Duprat, com roteiro de Andrés Duprat. Já disponível em DVD.

Homens e Deuses (Des Hommes et des Dieux): o diretor e ator francês Xavier Beauvois recria a história verídica de um grupo de monges (interpretados por Lambert Wilson e Michael Lonsdale, entre outros) que viviam em um monastério na Argélia, nos anos 1990. A eclosão da crise política que opõe fundamentalistas ao governo os obriga a decidir entre ficar, e ajudar a população de uma aldeia, ou partir. Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2010.

Melancolia (Melancholia): um filme-catástrofe como a ficção científica jamais havia produzido, graças ao dinamarquês Lars von Trier (Dançando no Escuro, Dogville, Anticristo). Na iminência do fim do mundo, duas irmãs (Kirsten Dunst, prêmio de melhor atriz em Cannes-2011, e Charlotte Gainsbourg), de vidas e personalidades distintas, procuram acertar as contas entre si e com o mundo.

A Pele que Habito (La Piel que Habito): O reencontro entre os espanhois Pedro Almodóvar e Antonio Banderas (que já haviam feito Matador e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos) é celebrado por um suspense de terror sobre um cirurgião plástico que vai longe demais na tentativa de fazer justiça com as próprias mãos — e, também, de atender ao próprio desejo.

Poesia (Shi): desprezada pela filha e maltratada pelo neto, uma enfermeira solitária (Yun Jeong-hie) descobre que tem o mal de Alzheimer. Tudo conspira para que entregue os pontos, mas ela prefere se agarrar à vida e descobre um modo de fazer isso por meio da linguagem poética. Escritor de prestígio em seu país, o diretor sul-coreano Lee Chang-dong ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes-2010. Já disponível em DVD.

Trabalho Interno (Inside Job): explicar as origens da crise financeira de 2008 para o público leigo em economia era uma tarefa difícil, mas o diretor norte-americano Charles Ferguson (No End in Sight) conseguiu ir além desse objetivo, ao expor, de forma clara e incisiva, as engrenagens do poder no mundo contemporâneo. Narrado pelo ator Matt Damon, ganhou o Oscar-2011 de melhor documentário. Já disponível em DVD.

 

Por João Nunes (Crítico de cinema do Correio Popular de Campinas)

Meus dez melhores filmes de 2011

1. Poesia (Lee Chang-dong, Coreia do Sul)

2. Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas (Apichatpong Weerasethakul, Tailândia/Reino Unido/Espanha/Alemanha/França)

3. A Árvore da Vida (Terrence Malick, Estados Unidos)

4. Meia-Noite em Paris (Woody Allen, Estados Unidos/Reino Unido)

5. Melancolia (Lars von Trier, Dinamarca/Alemanha/França/ Itália/ Suécia)

6. Cópia Fiel (Abbas Kiarostami, Irã/França)

7. Blue Valentine – Namorados para Sempre (Derek Cianfrance, Estados Unidos)

8. O Homem ao Lado (Mariano Cohn e Gastón Duprat, Argentina)

9. Além da Vida (Clint Eastwood, Estados Unidos)

10. Saturno em Oposição (Ferzan Ozpetek, Itália/França/Turquia)

Comentários

O adolescente de Poesia (Coréia do Sul), de Lee Chang-dong, tem profundo desprezo pela vida – a dele e a dos outros. Sua avó (a excepcional Jeong-hee Yoon), ao contrário, a valoriza, a despeito de se descobrir com Alzheimer e da tragédia que ronda sua casa. Duas notícias ruins servem de impulso para ela buscar na beleza, que ainda consegue enxergar no mundo, seu anteparo. E, ao tomar uma decisão ética, essa mulher nos comove pela dignidade. Um filme inesquecível.

Há em Tio Boonnmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas (Tailândia/Reino Unido/Espanha/Alemanha/França), do tailandês Apichatpong Weerasethakul, um mistério que a crença na reencarnação até explica. Porém, o diretor não está interessado em explicações racionais – passa longe do discurso cartesiano. E importa menos a história e mais a atmosfera que ele cria para falar sobre o mistério. Um filme que instiga, desperta sensações, abre percepções.

Enquanto Terrence Malick se concentra em entender o ciclo histórico do universo, A Árvore da Vida (Estados Unidos) patina no exagero de concentrar tal história em um filme de duas horas. Mas quando se distancia do excesso e assume a tentativa de compreensão do ser humano, nos identificamos com a família que perdeu um filho e o irmão deste, espécie de Caim, sente o desprezo do pai e carrega esse fardo vida afora. Mas o pai severo (Deus?), ciente de que fez escolhas, também sofre, assim como a mãe submissa. A dor os (e nos) une. Malick traduz o drama em beleza e atmosfera e alcança momentos de arrebatamento – convite para uma quase transcendência.

Meia-Noite em Paris (Estados Unidos/Reino Unido, 2011), de Woody Allen, é o filme mais celebrado do ano, o mais simpático, o amoroso, o afetivo, o que valoriza o dia de hoje. Nada disso faz dele veículo para qualquer tipo ensinamento – quem quiser aprender que aprenda, mas o filme não tenta nos passar “mensagens” de nenhuma natureza. Antes, quer que nos percamos na fantasia do cinema (que o diretor faz muito bem) por determinado tempo para despertarmos em seguida, não se importando se realidade é mais dura que as viagens por uma Paris romântica que só existe no passado.

O belo também se manifesta em Melancolia (Dinamarca/Alemanha/França/ Itália/ Suécia), de Lars von Trier, mas passa longe do romantismo. A espera pelo fim jamais se vale de efeitos especiais nem prevê hecatombes ou catástrofes. E, de um lado, a espera tem sabor de manancial – na melhor sequência do ano, Kirsten Dunst desnuda toma um “banho de lua” como se vislumbrasse o paraíso. De outro, há o medo, nosso temor classe média – como se fôssemos capazes de resolver a tragédia. E o final de Melancolia, este sim, atinge a transcendência. Melancolia é o fim do mundo se fim.

Em Cópia Fiel (Irã/França), Abbas Kiarostami nos desconcerta – o que não é incomum vindo dele. Mas, em terra estrangeira, o diretor iraniano não esbanja, pelo contrário, segue contido, enfiado em um carro ou em lugares fechados. E quando sai, exercita sua câmera em belos planos sem cortes num passeio por lindas paisagens italianas enquanto nos ilude. Será aquele um casal de verdade ou faz um jogo de cena? Kiarostami não responde e não busca respostas. Da dúvida nasce um exercício sobre verdades e mentiras, originais e cópias – e ainda nos oferece o brilho intenso de Juliette Binoche.

Vendido para o dia dos namorados como Namorados para Sempre – Blue Valentine (Estados Unidos), de Derek Cianfrance, é o filme mais triste de 2011, capaz de dilacerar o mais duro dos corações (apaixonados ou não, pois a dor, suficientemente humana, nos toca a todos). E Ryan Gosling faz seu melhor papel na carreira. Ele e Michelle Williams protagonizam a impossibilidade, a absoluta falta de perspectiva ainda que se amem. Quando Dean toca e dança para Cindy e, depois, quando chora e argumenta na vã tentativa de reconciliação, o filme retrata a graça e a dor com igual intensidade.

Seu oposto é O Homem ao Lado (Argentina), de Mariano Cohn e Gastón Duprat. Cuidadoso e límpido, mas cerebral, matemático. Dois marmanjos brigam pelo espaço e, como bons machos, demarcam terrenos. Um, grosseiro (e invasivo), quer o sol entrando em sua sala; outro, refinado (e arrogante) não quer a sua casa devassada nem quer lesar um monumento de Le Corbusier. Com roteiro milimétrico (o melhor desfecho do ano), o filme consegue a façanha de, a despeito de um mote aparentemente árido, tratar de temas políticos, sociais (o garoto com a camisa do Messi é um achado) e culturais sem nunca abandonar o trivial: a briga de dois vizinhos.

Além da Vida (Estados Unidos), do velho e bom Clint Eastwood (que mais parece vinho de qualidade), consegue sem nenhum tipo de ousadia formal, nada de exercício de linguagem, mas com a mesma determinação clássica fazer o que os filmes espíritas todos realizados no Brasil juntos não conseguiram: emocionar com o tema da vida após a morte sem nunca ser piegas ou doutrinário. É sereno ao contar histórias que parecem reais e tocam fundo. E ainda tem o melhor efeito especial do ano – leia-se, a serviço da dramaturgia e não executado para ser mero pingente.

Realizado em 2007, chegou tardiamente ao Brasil este outro filme, Saturno em Oposição (Itália Itália/ França/ Turquia), de Ferzan Ozpetek, que trata da dilaceração em estado bruto. Num tempo em que livros, filmes, peças teatrais, músicas e remédios tentam nos manter longe da dor, nos ensinando como ficar bem e sermos felizes (mesmo que o mundo caia ao nosso lado), o personagem central (vivido por Pierfrancesco Favino) se dá o direito de chorar e lamentar a perda assumindo o ritual do luto como deve ser: sem unguento, sem alívio. É um filme-dor sem medo.

O melhor brasileiro

O melhor filme brasileiro do ano é Trabalhar Cansa (Juliana Rojas e Marco Dutra), rodado em parte na região de Campinas, tendo participado da seleção Um Certo Olhar de Cannes, em 2011. Com uma partitura bem realizada, misto de trivial e incomum, incorpora o terror que se desenvolve aos poucos, sem alarde. Tudo sereno, dentro de suposta naturalidade. A despeito de embutir nas entrelinhas a discussão um tanto obsoleta sobre relações trabalhistas, não é da ideologia que trata. Há outras camadas igualmente interessantes. As relações familiares, por exemplo, ou a questão social entre patrões e empregados (que não deixa de ser política). No entorno, o terror como gênero, uma raridade no Brasil.

 

Por Neusa Barbosa (do Cineweb)

Fechando o balanço do ano, vou começar pelos filmes nacionais. E não quero me limitar aos tradicionais 10 melhores – vou ficar com 15 porque não quero deixar nenhum destes de fora. Abaixo a ditadura matemática!

Aqui estão meus preferidos do ano:

BróderO PalhaçoCorumbiara, Diário de uma buscaFamília Braz – Dois TemposTranseunteEx istoAlém da estradaAssim é se lhe pareceAs cançõesFilhos de JoãoMalu de bicicletaElvis & MadonaQuebradeirasRock Brasília.

De longe, dá para ver que há menos filmes de ficção (6) do que documentários (9). O ano não me pareceu especialmente bom na ficção, apesar dos estrondosos sucessos de bilheteria, muitos de qualidade duvidosa, do meu ponto de vista. Mas, se é bom para a indústria, que seja, vá lá.

Ainda assim, vale o comentário de que tanto reclamam que os cineastas brasileiros não conseguem atingir uma chamada “simplicidade argentina”. A melhor resposta para isso me parece que está em O Palhaço, de Selton Mello – o jeito mais brasileiro de ser simples no cinema e dar o recado com uma ternura e humor todos nossos; Elvis & Madona, de Marcelo Laffite, uma delícia de comédia que toca em tantos temas escorregadios e perigosos e se sai esplendidamente bem; e Malu de Bicicleta, de Flávio Tambellini, o romance mais gracinha do ano, com a musa Fernanda de Freitas.

Bróder, estréia vigorosa de Jeferson De, é outra história – pega a questão social pelo viés afetivo sem desviar dela. Fala de muitas coisas, tem um elenco afinadíssimo, é um filme que pulsa verdade. Meu filme sério brasileiro do ano. O segundo colocado é Além da estrada, do também estreante Charly Braun, outro ótimo exemplo da simplicidade à brasileira, com densidade na medida.

No documentário, andamos bem, com filmes sobre assuntos fortes (Corumbiara, Diário de uma busca); um retrato do Brasil contemporâneo em cima do fato (Família Braz); musicais de perfis bem diferentes (Filhos de JoãoRock BrasíliaAs Canções).

Mesclando documentário e ficção, tivemos alguns ótimos filmes com empenho de linguagem cinematográfica: Ex isto, de Cao Guimarães; Assim é se lhe parece, de Carla Gallo; Quebradeiras, de Evaldo Mocarzel; e Transeunte, em que Eryk Rocha estreia na ficção trazendo de volta ao cinema o extraordinário ator teatral Fernando Bezerra (o prisioneiro maltratado de Sargento Getúlio).

Estrangeiros:

Pensando bem, não dá para reclamar de 2011. Mas da prata da casa a gente sempre exige e espera mais. Que 2012 seja ainda melhor!

Seguindo o balanço 2011, hoje (23;12) falo dos estrangeiros. O ano foi excepcional em alguns dos maiores e melhores festivais do mundo (Cannes e Veneza, certamente) e, em parte, essa qualidade se refletiu aqui. Mas ainda falta chegar muito ao nosso circuito.

Espero que em 2012 a gente tire esse atraso.

Minha lista dos melhores 15 do ano:

A árvore da vidaCópia fielTrabalho internoIsto não é um filmeO mágicoBiutifulLolaUm sonho de amorBalada do amor e do ódioO garoto da bicicletaMelancoliaPoesiaMeia-noite em ParisTudo pelo poderInverno da alma

Menções muito honrosas (tenho um enorme carinho por estes três):

InquietosHiroshima – um musical silenciosoTio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas

Na parte de retrospectivas, ótimas mostras (Nicholas Ray, Clint Eastwood, no CCBB; cinema italiano no MIS) e a espetacular cópia nova de Taxi Driver, de Martin Scorsese – que passou na Mostra de SP e no cine Olido paulistano, por uma semana, agora em dezembro.

Tomara que em 2012 sejam lançados logo: Shame, de Steve McQueen (e que algum distribuidor brasileiro lance o primeiro filme desse excepcional diretor britânico, Hunger, com o mesmo Michael Fassbender, ator magnífico); Um método perigoso, de David Cronenberg (com Fassbender, de novo, num duelo de interpretações sensacional com Viggo Mortensen); e Precisamos falar sobre o Kevin, com a excepcional atriz inglesa Tilda Swinton, para mim, a melhor da atualidade no mundo. É ver para crer.

 

Por Luiz Zanin (blog do Estadão)

Meus dez melhores estrangeiros de 2011

Melancolia, de Lars Von Trier (Dinamarca).
Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami (Irã).

A Árvore da Vida, de Terrence Malick (EUA). 
O Garoto da Bicicleta, dos irmãos Dardenne (Bélgica).

Singularidades de uma Rapariga Loira, de Manoel de Oliveira (Portugal).

Lola, de Brillante Mendoza (Filipinas). 

Poesia, de Lee Chang Dong (Coreia).
Tio Boonmee que Pode Recordar suas Vidas Passadas
, de Apichaptong Weerasetakhul (Tailândia).
Meia Noite em Paris, de Woody Allen (EUA). 

Bravura Indômita, dos irmãos Coen (EUA)

Meus melhores brasileiros de 2011

Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra.

Ex-Isto, de Cao Guimarães.

Corumbiara, de Vincent Carelli.

Transeunte, de Eryk Rocha.

As Canções, de Eduardo Coutinho.

Diário de uma Busca, de Flávia Castro.

O Palhaço, de Selton Mello.

Estrada para Ythaca, dos irmãos Pretti e primos Parente.

Riscado, de Gustavo Pizzi. 

O Céu sobre os Ombros, de Sérgio Borges

 

Por Pedro Martins (blog de Cinema/Diário do Nordeste)

2011 chega ao fim após uma temporada em que 375 filmes transitaram pelos diversos circuitos de cinemas do País, e pouco menos de 300 foram exibidos em Fortaleza. Na tradicional seleção dos melhores do ano constata-se que 2011 foi um ano generoso em filmes de qualidade, especialmente porque, tanto as duas salas do Espaço Unibanco no Centro Cultural Dragão do Mar quanto o Cinema de Arte do Multiplex UCI Ribeiro, redutos da sétima arte em seu estado puro, cumpriram as suas funções. A seleção destacada pelo analista representa escolhas intrinsecamente pessoais, segundo critérios que vão desde a sensibilidade com a qual a obra é recebida, passando por critérios filosóficos e históricos e se desfechando na análise especificamente cinematográfica. Daí, um ou outro título pode gerar discordância por parte de alguns cinéfilos ou de apenas apreciadores do cinema, o que favorece ao crítico a efetuar uma defesa de suas escolhas, colocando-se como um comunicador entre o autor da obra e o público. Na minha escolha essencialmente pessoal, o destaque maior da temporada é o drama A Árvore da Vida, de Terrence Malick, uma obra tão genial quanto 2001: uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick

Aponto A Árvore da Vida, de Terrence Malick, como o melhor filme do ano por expressar o Cinema em sua essência, a Arte, ao provocar inquietude, fascínio e reflexão. Obra filosófica impactante e de imagens fascinantes e surpreendentes, nos faz refletir provocando algumas perguntas inquietantes: de onde viemos? Quem somos? Qual o sentido de nossa existência? Ao expressar a percepção de nossa origem cósmica universal e darwinista, natureza e graça como caminhos da existência, o sentido de nossa “origem família” centrada em pai e mãe e na dor da mortalidade do corpo físico, Malick nos leva a ultrapassar, com Sean Penn, o portal que nos leva à praia da certeza da imortalidade da alma e da libertação do espírito, o reencontro de natureza e graça em um só elemento em uma esfera superior. Interpretação religiosa. Sim. Malick fez uma obra descaradamente religiosa com o objetivo de nos fazer pensar sobre o amor, a nossa mortalidade, a Terra que habitamos e o universo cósmico no qual moramos. Afinal, pense: qual é o propósito da existência?

Em segundo lugar, Em um Mundo Melhor, a cineasta dinamarquesa Suzanne Bier coloca o mundo como uma aldeia globalizada para tratar de dois temas: a violência com o alastramento da vingança e a ausência de comunicação entre as pessoas. Nesse processo, a realizadora indica que o mundo globalizado está longe de eliminar alguns dos seus impasses, como a desigualdade social, a miséria, a exploração e a violência. Bier nos deixa uma pergunta inquietante: podemos controlar os males da sociedade como tentamos controlar nossas próprias ações? Sem se desgarrar da esperança, ela nos indica a necessidade do exercício do amor e da pratica do perdão como fontes de combate aos males do mundo. Mas, será que estamos preparados para isso?

No terceiro da lista, 127 Horas, Danny Boyle consegue dinamizar a história real do alpinista Aaron Ralston e dar-lhe a dimensão de um drama humano sobre a insignificância da vida solitária, a tomada de consciência, a luta pela vida, o entendimento de que a existência nada tem a ver com acasos e que, perante a força da natureza, simplesmente existir é o sentido de tudo.

Quarto da lista, Homens e Deuses consegue extrair dois temas, a religião e a política, de uma história real ocorrida na Argélia em 1966. O foco, a presença colonialista ocidental no Oriente (os padres rejeitam a proteção militar de um governo corrupto e esse governo vê os colonizadores como atraso social e pilhagem econômica do país) se amplia para a da intolerância religiosa ao focar uma facção islâmica fundamentalistas. Xavier Beauvois filosofa sobre a convivência harmônica com a natureza e os semelhantes e as escolhas dramáticas que somos obrigados a fazer.

Um drama romântico às avessas ocupa o 5º lugar: Namorados Para Sempre.  Segundo filme de Derek Cianfrance, lento e difícil para o público comum pela ausência de ação e de ter em cena apenas duas pessoas conversando, de Hollywood só tem mesmo os atores. É notável a forma como Cianfrance desenvolve, sem pressa e a todo custo grudada à realidade, a tentativa desesperada de um casal, Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling, notáveis), em salvar um casamento que, apesar de ainda se amarem, rola, desgastado, ladeira abaixo. Um filme triste, mas denso, de personagens humanos que falam, brigam e se amam com tal ímpeto que praticamente nos leva a conviver, com eles, as dores de um amor preso a um barco ao sabor do destino.

Além da Vida ocupa o sexto lugar. Clint Eastwood, com base em um argumento do inglês Peter Morgan (de A Rainha), trata da morte como motivo de busca para o entendimento e o significado da existência. Um tsunami e uma experiência de quase morte, um acidente e um irmão repentinamente órfão e um médium resistente em aceitar o seu dom, salientam-se numa história na qual as perguntas ganham caráter filosófico e cujas questões só encontram respostas na espiritualidade.

Em sétimo, o “thriller” político Tudo Pelo Poder expõe com contundência o lado sujo das campanhas eleitorais trazendo à tona as entranhas dos partidos políticos. Explorando a luta entre boa vontade versus necessidade dos homens que buscam o poder, o diretor George Clooney situa o homem como um animal político e promovendo reflexão sobre a conduta dos políticos, nos faz inquietantes perguntas: afinal, o que os partidos políticos? Há necessidade de serem como são?

Ocupando o 8º lugar, Um Sonho de Amor trata do processo de mudança na sociedade humana, a substituição dos valores do passado, como as tradições, imposto por uma nova realidade e necessidade de um mundo em veloz universalização, baseada na liberdade, processo esse levado a cabo pela nova mulher. Luca Guadagnino, inspirado em Visconti, conta como isso está ocorrendo através da história de uma mulher que se apaixona por um homem mais jovem.

Em penúltimo lugar, O Palhaço, obra de Selton Mello cujo  enfoque existencialista, a linguagem popular e a reflexão filosófica são as pilastras da sua sólida construção cinematográfica. No primeiro item, as 15 figuras humanas que compõem a trupe e, ao longo da narrativa, os seus diversos personagens secundários que entram e saem de cena; no segundo, os diálogos fáceis e a trilha sonora se unem para criar um canal de comunicação e conquistar a compreensão e a emoção do espectador; e no terceiro, a busca da identidade como metáfora do conhecimento da própria condição humana.

Fechando a lista, Melancolia, o hino de amor de Lars Von Trier a depressão, uma metáfora da tristeza humana nos tempos atuais dos relacionamentos em crise, em que a traição e a indiferença sufocam as emoções. Mesmo não concordando com esse tipo de cinema que trata do desalento e da desistência da vida, esta obra de Trier me incomoda até hoje com os seus momentos de genialidade e outros nem tanto. E quando um filme incomoda e inquieta a esse nível, merece ser destacado como um dos melhores do ano.

Menções Honrosas

Os filmes destacados como Menções Honrosas praticamente equivalem aos melhores do ano. Praticamente. É uma forma de destacar, com distinção, as obras com inegáveis méritos cinematográficos que até poderiam constar na seleção dos 10 títulos eleitos como os melhores.

Confira a lista das Menções Honrosas 2011.

Contra o tempo [Source Code, EUA/França, 2011], de Duncan Jones
Estrada para Ythaca [Brasil, 2010], de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes, Ricardo Pretti
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 (Harry Potter and the Deadly Hallows Part 2, EUA-Inglaterra, 2011), de David Yates
Inverno da Alma (Winter’s Bone, EUA, 2010), de Debra Granik
Lola (Lola, Filipinas, 200), de Brilhante Mendoza
Não me Abandone Jamais [Never Let Me Go, Reino Unido/EUA, 2010], de Mark Romanek
Caminho da Liberdade (The Way Back, EUA, 2011), de Peter Weir
O Discurso do Rei [The King’s Speech, Reino Unido/Austrália, 2010], de Tom Hooper (Paris)
O Vencedor (The Fighter, EUA, 2011), de David O. Russell
Rio (Rio, EUA, 2011), de Carlos Saldanha

E, afora as 10 produções destacadas nas menções honrosas, outras poderiam constar, igualmente, como os documentários Trabalho Interno, de Charles Ferguson, e Lixo Extraordinário, de João Jardim, Karen Hartley e Lucy Walker, a ficção científica Super 8, de J. J. Abrams, os brasileiros Meu País, de André Ristum, Transeunte,de Eryk Rocha,  e Uma Professora Muito Maluquinha, de André Pinto e César Rodrigues, a animação Operação Presente, de Sarah Smith, entre outros.

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