Por Rafael Carvalho (Bahia)
Bem-Vindo a Nova York
Poderia ser somente a alegoria de um escândalo sexual ultramidiatizado, mas Abel Ferrara preferiu fazer um filme de combate, para além do denuncismo. O caso do então diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, o francês Dominique Strauss-Kahn, que assediou sexualmente a camareira de um hotel em Nova York, é reapresentado aqui, sob o olhar ferrenho de Ferrara, uma espécie de filho maldito do cinema independente norte-americano.
Os nomes dos personagens estão mudados, mas os indícios são explícitos. O filme não mascara o soco que dá na pessoa de Strauss-Kahn, naquilo que ele representa de grotesco, machista e prepotente. Ao mesmo tempo, ele personifica também o universo do dinheiro que movimenta o mundo, apontando para as sujidades que há no mundo monetário.
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A História da Eternidade
A poesia bruta do sertão explorada mais uma vez. Camilo Cavalcante passeia pelos tipos que já foram largamente utilizados nesse tipo de ambiência: garota de família patriarcal tem sonho pulsante em conhecer o mar; o tio, um artista incompreendido, o pai, um bruto; em outros núcleos, há ainda o neto que retorna à terra natal, para alegria da avó, e o sanfoneiro cego que clama o amor de uma mulher em luto pela morte do filho pequeno.
São histórias que se entrecruzam na paisagem árida do interior nordestino, com suas regras e morais instituídas. Chega a ser um risco manipular velhos temas e tipos batidos desse ambiente já tão exposto nas artes em geral. O que sustenta o filme é a direção segura de Cavalcante, sua estreia no longa-metragem depois de um extenso trabalho com curtas.
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Aprendi a Jogar Com Você
Mais um documentário de observação, mais uma proposta de cinema direto, mais um personagem no cenário da música em busca do sucesso. “Aprendi a Jogar com Você”, de Murilo Salles, segue o DJ Duda e sua esposa Milka Reis pelas cidades-satélites de Brasília. Eles fazem algo como uma música de guerrilha e não escondem seu objetivo principal de ganhar dinheiro e tornarem-se conhecidos.
Se não há nada muito novo nesse tipo de abordagem, há trunfos aqui: um protagonista muito bom, engraçado, que se doa ao filme, e ainda uma participação dele longe de ser inocente. Há algo de esperteza nele que não esconde um falseamento da noção de documentário como registro dessa coisa chamada “real”.
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Por Edu Fernandes (São Paulo)
As Férias do Pequeno Nicolau
Quando se tem a sequência de um filme com elenco mirim e alguns anos se passaram entre as produções, é necessário trocar os atores. É exatamente isso que ocorre com “As Férias do Pequeno Nicolau”, lançado cinco anos após o filme original, “O Pequeno Nicolau” (2010). Nesse sentido, a decisão de afastar a locação é muito acertada. Dessa forma, poucos personagens se repetem e as mudanças são minimizadas.
Na nova aventura, Nicolau (Mathéo Boisselier) e sua família vão à praia, onde o garoto faz novos amigos – eis os personagens diferentes. O pai dele (Kad Merad, de “Aconteceu em Saint-Tropez”) reencontra-se com um colega de infância (Bouli Lanners, de “A Grande Volta”) e sua família. Na ocasião, os dois homens jocosamente combinam o casamento de Nicolau com Isabelle (Erja Malatier), mas o garoto toma a brincadeira a sério e começa a armar planos para sabotar o fictício matrimônio.
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Sinfonia da Necrópole
Quando soube que o primeiro longa solo de Juliana Rojas seria um musical que se passa dentro de um cemitério, imaginei que ela continuaria o flerte com o cinema de horror vistos em “Trabalhar Cansa” (2011) e “O Duplo” (2012). Com certeza há elementos do gênero em “Sinfonia da Necrópole”, mas o filme surpreende com uma pegada cômica irresistível.
O protagonista é Deodato (Eduardo Gomes, de “Quando Eu Era Vivo”), aprendiz de coveiro incumbido de ajudar uma nova funcionária (Luciana Paes, de “Crô: O Filme”) a recadastrar os túmulos. A convivência faz Deodato ter sentimentos por Jaqueline, mas há outras preocupações na mente do herói: ele considera que mexer nos pertences dos mortos pode ter consequências sinistras.
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Amazônia
A noite de 26 de setembro de 2013 ficará marcada na história do Cine Odeon. Desde sua fundação em 1926, quando o cinema ainda era mudo, foi nessa data em que se deu sua primeira projeção em 3D. O filme responsável por tal honraria foi “Amazônia”, que abriu o Festival do Rio 2013.
O protagonista do longa é um macaquinho que precisa se adaptar à vida em meio selvagem. Ele sempre conviveu com humanos, até que um acidente aéreo o colocou no coração da Floresta Amazônica. A partir de então, ele precisa lidar com um local totalmente novo para ele, com habitantes fascinantes e perigosos.
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