Considerações do júri da Abraccine II

Concretude e amor trágico

Por Camila Vieira (CE)

a historia da eternidade

O sertão de A História da Eternidade (foto acima) é precário e sombrio. As paredes das casas apresentam rachaduras. A pele dos personagens tem marcas. De noite, há pouca luz ou casebres com lamparinas. Seria fácil apontar a construção do espaço como sertão barroco – e não é de todo absurdo já que é notável a referência às pinturas de Caravaggio como inspiração buscada pelo diretor de fotografia Beto Martins. No entanto, para além do notável apuro técnico que perpassa a feitura das imagens, há uma vontade de invenção de um sertão por sua concretude, sem precisar recorrer a uma maquiagem fetichista que retrataria o lugar pelo estereótipo e pelo excesso de luz.

O concreto está já anunciado na apresentação dos capítulos de A História da Eternidade: “Pé de galinha”, “Pé de bode”, “Pé de urubu”. Não parecem ser mais que animais pendurados em árvores. São imagens que compõem a atmosfera do filme e, ao mesmo tempo, não estão ali para simplesmente simbolizar os acontecimentos que virão. Somos tomados sensorialmente pelo que aparece diante dos nossos olhos. Como as fotografias do mar penduradas na parede do quarto de Alfonsina, que aparecem e desaparecem ao clique do interruptor de luz.

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O Brasil contemporâneo na tela do 6th Paulínia Film Festival

Por Alysson Oliveira (SP)

“Comer sushi no sertão não é sinônimo de desenvolvimento”, disse de forma categórica o cineasta pernambucano Camilo Cavalcante durante o debate sobre o seu longa A História da Eternidade, no 6h Paulínia Film Festival. É sintomático, então, que em seu filme o sertão nordestino seja exatamente esse o produto do paradoxo do Brasil contemporâneo. Ao longo de quase uma semana do evento, as discrepâncias sociais e de classes estamparam a tela do Theatro Paulo Gracindo, onde ocorreram as sessões dos nove longas nacionais em competição.

Ao fim, A História da Eternidade se consagrou como o grande vencedor, levando não apenas os troféus de melhor filme e direção, como o prêmio da Abraccine, entre outros. O sertão onde a trama está situada, no meio do nada, tem como meio de comunicação um telefone público. Esse, aliás, é o vilarejo onde o filme foi rodado nessas condições. Como apontou o diretor, o lugar e os personagens são arquétipos do universal, mas não há como não encontrar figurações do presente brasileiro dentro de seu filme.

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