Por Paulo Henrique Silva (MG)
Devido à diversidade de propostas dos filmes apresentados na mostra competitiva do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, todos eles com traços bastante autorais que vão da crítica social a experiências de dramaturgia, o resultado da cerimônia que será realizada no Cine Brasília passa a ser uma grande incógnita.
Certo mesmo é a força do cinema pernambucano atual, representado no festival com dois longas-metragens. Depois da inusitada e ácida comédia política “Brasil S/A”, de Marcelo Pedroso, a noite de domingo teve a exibição de outra obra marcante: “Ventos de Agosto”, de Gabriel Mascaro, diretor que tem nas questões sociais o seu foco.
Como em “Um Lugar ao Sol” e “Avenida Brasília Formosa”, esse olhar de Mascaro parte da relação desse contexto social à geografia. A diferença aqui é que, ao invés de habitats criados – no bom e mau sentido – como reflexos do progresso (prédios altíssimos e favelas, respectivamente), temos o homem em contato com a natureza.
Mas não se trata de uma narrativa bucólica, que valoriza a ecologia e critica a interferência do ser humano. Aponta, sim, para o intercâmbio do prosaico e da singeleza (do curso normal) com os conflitos e os ruídos (interferências não naturais). Maior exemplo disso está na sequência inicial, em que um pequeno barco ganha gradativamente o rio.
A beleza do lugar contrasta com o rock no último volume saído de uma caixinha de som, enquanto uma garota se “bronzeia” com o líquido de um refrigerante. Mascaro, porém, não condena essa estranha amálgama (refletida ainda nas antenas parabólicas fincadas em casas sem ruas ou números) e vê nela uma harmonia até mesmo estética.
A maneira como fotografa esses corpos (depilados, limpos e belos) estampa uma conformidade com esse meio. O que altera são os conflitos internos. A narrativa é, ao mesmo tempo, frágil e poderosa, vasculhando pequenos aspectos de uma comunidade litorânea que ampliam a dicotomia entre passado e futuro, tradição e modernidade e antiguidade e juventude.
O protagonista está preso fortemente ao passado de sua família, responsável por cuidar do túmulo da mãe. Quer sair daquele cerceamento, simbolizado na história pelos vários veículos que conduz, mas sua trajetória sempre volta ao ponto de origem. A imposição do pai não permite que esse desejo se efetive, como as barreiras de pedra que tentam impedir o avanço da água.
Aquele lugar de exuberância acaba se tornando uma prisão emocional para o rapaz e sua namorada, que deixa claro esse incômodo ao dizer, para a sua avó, que só está cuidando dela por que sua mãe pediu. Seu intuito mesmo é fugir. A narrativa interrompe justamente nesse momento de decisão, em que imaginamos os desdobramentos, mas sem saber o que trarão para o casal.