Por Roger Lerina | roger.lerina@zerohora.com.br
Entrevistei Manoel de Oliveira ( 1908 – 2015) em 2004. O encontro, precioso para mim, aconteceu durante a 28ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O diretor de obras-primas como “Vale Abraão” (1993) e “Non, ou a Vã Glória de Mandar” (1990) veio ao país divulgar seu então mais recente filme: “O Quinto Império – Ontem como Hoje” (2004), adaptação de um livro sobre o mítico rei lusitano Dom Sebastião, desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, e desde então símbolo de uma fabulação portuguesa de um porvir radioso que nunca chega.
Na época, o cineasta que morreu na quinta-feira aos 106 anos já era o mais longevo diretor de cinema em atividade no mundo. O feito seria suficientemente notável por si só, mas Oliveira ainda contava com sua obra a favor: para muito além da proficuidade artística, o realizador era admirado pela qualidade de sua filmografia, que contemplava o homem desde um ponto de vista filosófico e existencial, aberta a debater as grandes questões do pensamento ocidental e ao diálogo com as outras artes – sobretudo a literatura, o teatro e a pintura.