Obrigado, Canal Brasil!
Paulo Henrique Silva
Nenhuma outra empresa ou instituição teve uma relação tão estreita com os críticos de cinema quanto o Canal Brasil. Também sentimos que ali é a nossa casa, desde sempre convidados a participar dos júris para decidir o curta que levaria o Prêmio Aquisição do canal nos vários festivais de cinema espalhados pelo país.
E para nós, da Abraccine, foi bastante natural bater à porta do CB para se tornar nosso parceiro numa área tão carente quanto a produção cinematográfica: a reflexão crítica, cada vez mais ausente dos grandes veículos. Natural também foi a recepção do canal ao projeto da coleção “100 Melhores”, dedicada ao cinema nacional.
Até parecia que o Canal Brasil nos esperava, para poder fechar um arco dedicado ao cinema brasileiro: exibição, produção e, por fim, a crítica. Foi a primeira vez que a emissora investiu na realização de uma publicação de cinema, escrita por alguns dos principais críticos do país, entre associados da Abraccine e convidados.
Bastaram uma conversa num festival, alguns e-mails e telefonemas e um sim que possibilitou não só um, mas três livros – o último, voltado para a animação, foi lançado no prestigiado Festival de Annecy, na França, e vem percorrendo o Brasil ao preencher uma lacuna bibliográfica a respeito da produção nacional no setor.
Não sei o que mais virá pela frente. O que importa agora é reconhecer a relevância do Canal Brasil como um parceiro que ajudou a Abraccine a se tornar uma sólida e ativa entidade voltada não só para críticos de filmes, mas também para a divulgação e para a memória do cinema brasileiro. Obrigado, Canal Brasil!
Canal Brasil: a defesa do curta-metragem e dos conteúdos nacionais
Luiza Lusvarghi
A exibição e o apoio à produção de curtas nacionais pelo Canal Brasil foi algo que se colocou desde a sua fundação, em 18 de setembro de 1998, como parte integrante de uma campanha pela defesa do conteúdo nacional do Grupo Globo, que incluía a criação da Globo Filmes no mesmo ano. O Canal Brasil surgiu de uma joint-venture entre a Globosat (divisão de TV por assinatura das Organizações Globo) e o Grupo Consórcio Brasil, formado por Luiz Carlos Barreto, Zelito Vianna, Marco Altberg, Roberto Farias (morto recentemente), Anibal Massaini Neto, além de Patrick Siaretta, André Saddy e Paulo Mendonça. A campanha Conteúdo Brasil visava interferir na regulamentação do artigo 222, que permitia a uma empresa estrangeira ter participação de até 30% em canais abertos. O movimento promoveu um seminário na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), reunindo produtores culturais, pesquisadores, e artistas como o teatrólogo Ariano Suassuna, resultando na entrega de um documento ao então presidente Lula, pelo ator Tony Ramos, em 6 de julho de 2003. A regulamentação, no entanto, acabou sendo aprovada.
Com a regulamentação da Lei da TV Paga (12.485/2011), exibir conteúdo nacional passou a ser uma exigência, o que só ampliou a produção do mercado audiovisual no País. Pela lei, todos os canais devem veicular um mínimo de 3h30 de conteúdo brasileiro semanalmente em horário nobre, sendo metade de produtora independente. Essas exibições são monitoradas pela Ancine (Agência Nacional de Cinema). O Canal Brasil segue como referência de defesa da produção nacional, exibindo e produzindo em parceria com produtoras independentes curtas, programas de televisão, filmes e séries. O Prêmio Aquisição Canal Brasil contempla com R$ 15 mil os curtas-metragens selecionados nos festivais do País, por um júri composto de críticos e jornalistas. O Canal Brasil destina ainda R$ 50 mil anualmente para o melhor curta, escolhido dentre os ganhadores do Prêmio. A coprodução de longas com produtoras independentes inclui vários títulos de destaque como Canção de Baal (2007), de Helena Ignez, Boi Neon (2015), de Gabriel Mascaro, Mulheres no Poder (2015), de Gustavo Acioli, Anna K (2014), de José Roberto Aguillar, Um Filme Francês (2015), de Cavi Borges, e a coprodução internacional Jauja (Argentina, Dinamarca, França, México, EUA, Alemanha, Holanda, Brasil, 2015), de Lizandro Alonso.

Paulo Mendonça ao lado da placa de homenagem do Canal Brasil em Gramado
Um grande e solitário amigo do cinema brasileiro
Neusa Barbosa
Nunca é demais lembrar, e com razão, que a Retomada dos anos 1990 ressuscitou a produção claudicante do cinema brasileiro, ferida de morte com o fim da Embrafilme. No entanto, ela não resolveu um problema crônico de nosso cinema – a exibição. Um problema que, aliás, continua crônico ainda hoje, 2018.
Nos últimos 20 anos, no entanto, um outro personagem pediu passagem no cenário nacional – o Canal Brasil, trazendo na bagagem a história e a prática de produtores veteranos, como Luiz Carlos Barreto, Zelito Vianna, Roberto Farias, Anibal Massaini Neto, Marco Altberg, secundados pela experiência de um profissional do mercado financeiro, Paulo Mendonça. Em duas décadas, o canal tornou-se uma referência única, como janela permanente de exibição para os filmes brasileiros, criando um espaço garantido para que sua circulação não ficasse limitada apenas aos interesses imperiais do circuito dos cineplexes, notoriamente avessos ao cinema que fala português – assim como os demais canais de TV, que costumam ignorar solenemente a maior parte da produção nacional.
Nestas duas décadas, não só os filmes brasileiros puderam contar com essa vitrine constante, multiplicando sua visibilidade, como também sua repercussão através de criativos programas de entrevistas, capitaneados, inclusive, por artistas.
Fora isso, o canal tornou-se um parceiro indispensável como coprodutor, permitindo que sonhos e projetos diversificados se tornassem realidade e alcançassem as telas. Mais ainda os curtas-metragens, essa espécie de primo pobre do cinema, que encontram no Prêmio Aquisição um fortalecimento fundamental, inclusive ao ganhar um espaço de exibição que tem encolhido nos últimos anos, apesar da produção sempre crescente. Com esta iniciativa, apoia-se uma importante base de formação dos cineastas nacionais das novas gerações. Longa vida, Canal Brasil!

Júri do Prêmio Canal Brasil de Curtas no último Festival de Gramado
Um prêmio para realizadores e para o público
Cecilia Barroso
Dentre as deficiências que o cinema brasileiro enfrenta está um certo abandono das produções. Problema antigo da nossa cinematografia, depois de uma escassa presença no mercado distribuidor, muitas dos filmes se perdem, ou só podem ser descobertos ou revisitados posteriormente com muita dificuldade. O Canal Brasil faz com que esta realidade se amenize. Com boa parte da programação dedicada a este resgate, trouxe às telinhas e possibilitou aos espectadores um contato com obras de diversos períodos e gêneros.
Mas há uma outra realidade ainda mais beneficiada com a existência do canal. Se a dificuldade de distribuição é uma realidade para os longas, a coisa é muito mais grave – pode-se dizer quase inexistente – com os curtas-metragens. Restritos a exibições em festivais, filmes que trazem uma variedade regional, de gênero e classe muito maior, com uma grande liberdade na experiência narrativa e inovação de linguagem, acabam ficando desconhecidos do público.
Essa ausência foi percebida pelo Canal Brasil, que antes mesmo de entrar no ar, em 1998, estabeleceu uma premiação para o formato. O principal objetivo do prêmio, antes conhecido com Prêmio Aquisição de Canal Brasil, é estimular esta produção, pensando não só na nova geração de cineastas, mas também naquela que encontra no curta o tempo ideal para contar suas histórias.
Nesses 20 anos de existência, após o acréscimo de novos festivais e mudanças de formato e de até de nome, já foram 205 curtas premiados. Em 2018, o Prêmio Canal Brasil acontece em 11 festivais: Mostra de Tiradentes, É Tudo Verdade, Cine PE, Anima Mundi, Cine Ceará, Festival de Gramado, Kinoforum, Festival de Brasília, Janela do Recife, Curta Cinema e Mix Brasil.
A escolha é feita por um júri convidado, composto por jornalistas especializados em cinema que estejam vivenciando o festival, e os filmes vencedores recebem um troféu, um prêmio no valor de R$ 15 mil e entram na programação do canal. Desde 2006, acontece também o Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragem, que, além de um júri oficial, tem conta com a participação do público, por meio de votação online, e elege o melhor filme da temporada, com um prêmio de R$ 50 mil reais.
O pioneiro prêmio é um incentivo importante aos realizadores, que encontram não só o reconhecimento, mas a possibilidade de que suas realizações sigam vivas e alcancem um público que, com todas as restrições de mercado impostas ao audiovisual brasileiro, dificilmente alcançariam. E que bom para o público que, há 20 anos, consegue ter acesso a uma produção tão plural e instigante, porque qualidade é algo que nunca faltou aos curtas-metragens brasileiros.