Como parte do dossiê Domingos Oliveira, confira críticas feitas pelos nossos associados de alguns de seus filmes.
Feminices
“Misturando humor leve e uma crônica da mulher contemporânea, Domingos Oliveira criou o que ele chama na abertura do filme de “uma experiência, uma brincadeira, um quase-documentário”. Para o cineasta, a forma de atingir o geral é lidando com o particular. Por isso ele foca a sua história num grupo etário e social (atrizes de 40 anos) e acaba falando do universal.” Neusa Barbosa
BR716
“Afetuoso, mas ainda assim incisivo, BR 716 é o retrato da juventude daquele tempo, o retrado de um Rio de Janeiro que já não existe mais. Entre diálogos e longas divagações, outra marca registrada do cinema do diretor, explicita-se um trajeto interrompido por algo que estava fora do alcance daquelas pessoas.” Cecília Barroso
“Entre festas felizes e intermináveis, com muito, muito álcool, em que seus amigos passam mais tempo no tal apartamento do que em suas próprias casas, Felipe transita por entre eles num “dominguiano” tom de melancolia por não conseguir terminar de escrever seu primeiro romance, ou roteiro de cinema, ou peça de teatro, nem ele sabe bem.” Luiz Joaquim
“Domingos se volta para as formas de cinema daquela época, assim, seu BR 716 transita entre a Nouvelle Vague e o cinema de John Cassavetes. Há também uma artificialidade proposital em diálogos, ou quando as personagens se voltam para a câmera. O resultado é um tanto irregular – as artificialidades nem sempre funcionam – mas os bons momentos são mais constantes do que os ruins.” Alysson Oliveira
Todo mundo tem problemas sexuais
“Nenhuma outra parte do filme é tão hilariante quanto a final, em que Pedro interpreta, nada mais, nada menos, do que o pênis: uma situação que veio do teatro e costuma, literalmente, levar a platéia às lágrimas, de tanto rir. Em várias sequências, Domingos de Oliveira opta por intercalar a montagem de um esquete com trechos de apresentações teatrais da mesma situação – o que dá um molho especial ao filme, numa espécie de diálogo entre as artes.” Neusa Barbosa
Primeiro dia de um ano qualquer
“Se é verdade que Domingos mantém sua verve – há vários bons momentos, como a engraçadíssima cena que mostra um vexame do cantor Yan (Ney Matogrosso) num videokê -, também é nítido que várias notas desafinam nesta música de câmera intimista, que forma este filme, como todos os seus outros. Uma das principais é o erro de casting de Maitê Proença – por muito que visivelmente se esforce, ela não tem a descontração, o timing cômico necessário para uma personagem que exerce influência sobre o destino de todas as outras. E aí todo o samba desanda um bocado.” Neusa Barbosa
Infância
“No mais, Infância conserva aquela que é a melhor característica do diretor, roteirista, dramaturgo: o amor por seus personagens. Mesmo quando os mostra em contradição, em atitudes pouco edificantes, ele nunca os julga nem expõe. Pelo contrário, tece em torno deles uma aura de carpintaria teatral delicada, que revela sua humanidade, sua conexão com toda a humanidade, capaz de despertar a identificação com o público, pelo humor, pela ternura, até mesmo pela compaixão.” Neusa Barbosa
“Assim como fez Fellini em “Amarcord”, as recordações verdadeiras se misturam com as versões poéticas do passado. E por entre os fantasmas que evocam as imagens do tio histérico, do odioso primo mais velho e da tentadora copeira, sobressaem as figuras dominantes da mãe e da avó – insuportável e fascinante.” Luciano Ramos
Juventude
“Entre as lembranças de juventude está a primeira vez que estiveram juntos, quando foram selecionados para a peça A Ceia dos Cardeais, encenada na escola. Assim como no texto do português Júlio Dantas, os três amigos se reunem e contam seus segredos amorosos mais íntimos uns aos outros.” Cecília Barroso
““Juventude” reforça agora a impressão que deu ao exibir no último Festival de Gramado, em agosto, ou seja, ser um dos filmes mais felizes e simpáticos da nova safra brasileira. Antes de qualquer anáise fria, é importânte dizer que “Juventude” é lindo. Simples assim.” Luiz Joaquim
“A tessitura complexa deste roteiro, da autoria de Domingos, cria diversas camadas para que estes homens assumam e ultrapassem a queda de suas muitas crenças pela vida – como diz o diretor em off no começo, deixando para trás a psicanálise, o marxismo, a revolução e a razão. Só sobrou o amor. ” Neusa Barbosa
Carreiras
É fácil entender o temor da atriz. A Laura de “Carreiras” é um furacão em cena. Sob a mira da lente digital de Dib Lutfi, monstro da cinematografia nacional, Priscilla passa mais da metade dos 72 minutos de “Carreiras” contracenando com um telefone. E são raros, muitos raros, os momentos em que isso soa falso. Luiz Joaquim
Resenha da autobiografia VIDA MINHA
“Pelas suas realizações, até chegamos próximo ao artista, mas também não o decifraremos. Números podem ajudar a entender a dimensão de seus feitos – em mais de 60 anos de profissão é diretamente vinculado a mais de 130 títulos encenados, tendo escrito 23 peças, dirigido 59, ter lançado seis traduções e dirigido 16 longas-metragens – entre eles uma obra-prima do cinema brasileiro chamada “Todas as Mulheres do Mundo” (1967), filme que o lançou, assim como também sua, à época, segunda ex-esposa, a atriz Leila Diniz (1945-1972). Mas, mesmo assim, Domingos poderá ser um mistério.” Luiz Joaquim