31º Cine Ceará: presença feminina

*Vitor Búrigo

Para sua 31ª edição, que aconteceu em formato híbrido, o Cine Ceará exibiu curtas e longas em competição e também em sessões especiais. Na Mostra Competitiva Ibero-americana de longa-metragem foram apresentados seis títulos inéditos no Brasil, entre eles, A Praia do Fim do Mundo, de Petrus Cariry, vencedor do Prêmio Abraccine.

Rodado na praia de Icaraí, no litoral cearense, com imagens adicionais feitas na praia de Atafona, no Rio de Janeiro, a obra é ambientada em uma cidade fictícia que está em processo de destruição devido ao avanço brutal do mar e a decadência social em seu entorno.

A deslumbrante fotografia de Cariry e o impecável trabalho de som de Moabe Filho, Pedrinho Moreira e Érico Paiva, com trilha de João Victor Barroso, acompanham a trama que retrata três mulheres que lidam com vontades diversas em relação à submersão que ameaça a cidade e suas próprias vidas. Interpretadas por Marcélia Cartaxo, Fátima Macedo e Larissa Goes, essas personagens flertam com um clima fantasmagórico, muito bem construído no roteiro, ao mesmo tempo em que enfrentam conflitos pessoais. Aqui, Petrus entrega um filme sobre pertencimento e o estado das coisas; as consequências das decisões tomadas e um passado que assombra constantemente.

Entre tantas qualidades artísticas impressas na telona, é preciso enaltecer a força dessas mulheres em cena. Marcélia Cartaxo, depois do sucesso estrondoso em Pacarrete, comprova, mais uma vez, que talento nunca lhe faltou. Despida da energia efusiva e marcante da bailarina de Russas, que interpretou brilhantemente no filme de Allan Deberton (também cearense), ela surge em A Praia do Fim do Mundo de maneira enigmática e com um semblante ríspido; características que se contrapõem muito bem com a personagem Alice, sua filha, vivida por Fátima Macedo, também em um trabalho elogiável.

Aliás, é preciso destacar a presença feminina em diversas outras obras exibidas nesta 31ª edição do Cine Ceará. A programação trouxe a potente presença das operárias de Chão de Fábrica, curta-metragem dirigido por Nina Kopko, e também a amizade improvável entre as personagens vividas por Clébia Sousa e Lee Young-Lan em Fortaleza Hotel, de Armando Praça. Momentos descontraídos foram proporcionados pelas mulheres de Perfume de Gardênia, uma coprodução entre Porto Rico e Colômbia com direção de Macha Colón; além do olhar intimista da cineasta Alicia Cano Menoni no documentário Bosco. Enquanto isso, a ficção científica Sideral, curta de Carlos Segundo, retratou a inquietação de Priscilla Vilela em cena, assim como o desespero de Alessandra Maestrini em Ato, de Bárbara Paz, e a angústia de Iolanda, em O Resto, de Pedro Gonçalves Ribeiro.

Outras tantas obras destacaram a presença feminina em cena neste Cine Ceará, que resultou em uma seleção marcada pela diversidade, força e olhares voltados à sociedade atual. Mais do que nunca, é preciso estar atento e forte; e que essas obras, ficcionais ou documentais, continuem proporcionando reflexões urgentes e necessárias e, claro, entretenimento. É na arte que resistimos. É na arte que resistiremos! 

*Vitor Búrigo foi júri Abraccine no 31º Cine Ceará

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