Carlos Reichembach – Parte II

“Não enxergo bem. Mas estou pensando bem”

Por Paulo Henrique Silva, Publicada no jornal Hoje em Dia, em 28/11/10

BRASÍLIA – Problemas de saúde não se curam com prêmios, mas não seria de todo errado dizer que a homenagem especial recebida por Carlos Reichenbach, na 43ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, teve um efeito revitalizante para um cineasta que vive um momento particular difícil – após passar por problemas cardíacos, ele perdeu grande parte de sua visão por causa de uma catarata nuclear.

“Não enxergo bem. Mas estou pensando bem”, afirmou o realizador gaúcho de 65 anos, que deverá passar por uma cirurgia nos próximos dias e não esconde o desejo de voltar a filmar em breve. “Se eu pudesse, faria um filme a cada cinco meses. Ideias não faltam”, garantiu o diretor de 33 longas-metragens no currículo, como “Amor, Palavra Prostituta” (1980), “Anjos do Arrabalde” (1986), “Dois Córregos” (1999) e “Falsa Loira” (2007).

Mesmo deixando a plateia do Teatro Nacional Claudio Santoro atônita, por muito pouco não caindo do palco, Carlão foi buscar seu prêmio sozinho e se disse de “alma lavada” ao finalmente ver um de seus filmes, “Lilian M: Relatório Confidencial” reconhecido no Brasil. A produção de 1975, que foi muito mutilada pela Censura federal, abriu a programação do festival em sua versão integral e restaurada.

De caráter irreverente e bastante crítico sobre a situação política da década de 1970, “Lilian M” enfrentou vários obstáculos, só conseguindo ganhar o destaque merecido dez anos depois, no exterior, a partir da realização de um documentário veiculado na emissora britânica BBC, sobre como os realizadores brasileiros usavam o sexo para falar de política. Com o sucesso do programa, o filme foi redescoberto, empurrando a carreira de Reichenbach.

“O filme também sofreu cortes quando passou na BBC, mas, curiosamente, nas cenas de tortura física. No Brasil, os censores encrencaram com a subversão da família, retirando mais de 20 minutos, entre elas uma suruba que envolvia pai, filho e madrasta”, recorda Reichenbach. Carregado de influências, especialmente do cinema japonês, a história acompanha uma mulher do interior que tenta mudar de vida na cidade grande.

A protagonista é vivida Célia Olga Benvenutti, escolhida após impressionar o diretor por sua cinegenia. “Ela tinha essa coisa rara que os franceses chamam de cinegenia, em que as atrizes parecem namorar com a câmera. Percebi nitidamente no primeiro contato que ela era essencial, que possibilita mudar de performance como o papel pedia, a partir de cada homem que entrava na vida da personagem Maria”.

Apesar dos problemas com a Censura, Reinchebach se mostra saudosista de um tempo em que os filmes médios eram vistos por mais de 500 mil espectadores. “Qualquer filme fazia meio milhão de público. Até mesmo os ‘miúras’, que era como chamávamos as obras difíceis, não totalmente acessíveis. Um filme como Lilian M, ousado para a época, teve mais espectadores que meus últimos cinco trabalhos juntos”, recorda.

Nos anos de 1970 ainda era possível encontrar diretores formados na prática, como José Mojica Marins (o criador do personagem Zé do Caixão) e Oswaldo de Oliveira. “Nossa formação acontecia nos programas triplos dos cinemas, em que um era uma obra-prima e os outros dois eram ruins. Como dizia Julio Bressane, todo filme ruim tinha um plano genial e nosso desafio era achá-los nestes trabalhos”, lembra.

A carreira de Reichenbach se estabeleceu sobre uma espécie de doce amadorismo, visto no próprio “Lilian M”, em que usou uma infra-estrutura mínima de sua produtora de comerciais, aproveitando sucatas de cenários da extinta Jota Filmes. “As filmagens eram pobres mesmo. O Carlão dizia que precisava de mim e lá ia eu fazer uma participação como atriz, assistente ou continuísta”, afirma Lygia, esposa do cineasta.

“Minha formação é odontologia e entrei no filme sem nenhum texto para decorar. O Carlão pedia para eu chegar no set e falar o que achava. Mas meu maior trabalho foi preservar a família”, conta Lygia. Em “Sede de Amar” (1977), ela, grávida de sete meses (“com uma barriga quilométrica”, segundo o marido), foi improvisada como continuísta depois que o produtor torrou todo o dinheiro na metade das filmagens.

Com “Sede de Amar”, Carlão tirou uma das grandes lições de sua vida: “Nunca comece as filmagens pelas cenas mais fáceis. Naquele filme, tivemos que cortar metade da equipe quando tínhamos que fazer uma cena de festa em que tudo acontecia, realizada num palacete desocupado. Tivemos que esconder o elenco no porão para eles jantarem, pois não tinha comida suficiente para os mais de 200 figurantes”, diverte-se o diretor.

Montador de “Lilian M” e hoje crítico de cinema da “Folha de São Paulo”, Inácio Araújo assinala a importância de Reichenbach para “abrir seus olhos para o cinema”. A dupla também vários roteiros, como o de “Amor, Palavra Prostituta”, em que escreviam de madrugada na casa do realizador, rindo tão alto a ponto da filha Eleonara acordar e chorar. “A Lygia levantava e ia dar de mamar. Depois de ver o filme, ela nos perguntou como ríamos tanto de algo que era uma tragédia”.

Carlão carrega até hoje esta maneira improvisada do fazer cinematográfico. Até a década de 1990, por exemplo, não aceitava usar som direto. Preferia a dublagem dos atores na montagem. Em “Lilian M”, ele lembra, divertido, da dificuldade do ator Walter Marins em “achar a sua boca”, sem conseguir sincronizar sua voz com a cena. “Pedi para ele deixar essa preocupação de lado, porque o cinema italiano sempre estava fora de sincro”.

Neste mesmo filme, Reichenbach chamou um dublador de verdade para participar do elenco, Wilson Ribeiro, a voz do policial Elliot Ness da série “Os Intocáveis”, exibida nos anos de 1950 e 1960. “Dublador consegue decorar qualquer coisa. Dei para o Wilson um discurso que Rui Barbosa fez na Conferência de Haia, em 1907, e ele decorou em meia hora, sem saber para o que era”, registra.

Para o realizador, uma das riquezas de “Lilian M” foi a oportunidade de misturar atores de diferentes formações. Sérgio Hingst vinha do Teatro Brasileiro de Comédia e fez parte da segunda geração de alunos da Escola de Arte Dramática, de São Paulo. Um dos atores com mais filmes no currículo (cerca de 100), ele não conseguia decorar suas falas e sempre recorria a dálias (textos escondidos fora de quadro). “Como não tínhamos som direto, um assistente ficava cantando palavra por palavra”.

Animado com a homenagem em Brasília, Reichenbach aproveitou para anunciar o seu próximo filme, que deverá se chamar “O Anjo Desarticulado”, em que se debruçará sobre o misticismo. “Não tem nada a ver com essa onda espírita que vem dominando o cinema brasileiro este ano. Não é protestante, católica, nem espírita. Ele é mais zen. Se Filme Demência era o encontro de Fausto com o diabo, este será o encontro de Fausto com Deus”, adianta.

As lições de cinema de Carlão

Por Ernesto Barros, publicado no Jornal do Commercio, em 2010

O cineasta paulista Carlos Reichenbach, 65 anos, foi homenageado no 43º Festival de Brasília com um Candango especial pelo conjunto da obra. Na ocasião, a plateia do Teatro Nacional Claudio Santoro teve a chance de assistir a Lilian M – Relatório confidencial, que ele realizou em 1975. Retalhado pela censura na ocasião do lançamento, quando chegou a perder 25 minutos de sua duração, o filme foi exibido em cópia restaurada e na versão do diretor. Carlão, como é mais conhecido no meio cinematográfico, fala nesta entrevista sobre Lilian M – Relatório confidencial e de algumas questões caras à sua obra, como seu olhar para o universo feminino, a presença do pai, direitos autorais e o ensino de cinema. De quebra, ainda manda um recado para a nova geração de diretores brasileiros.

SOBRE LILIAN M

Lilian M -Relatório confidencial foi feito após três anos de experiência com filme publicitário. Ofereceram-me sociedade numa empresa de publicidade tradicional de São Paulo, a Jota Filme. Foi três anos de aprendizado e ao mesmo tempo de muita tortura, fazendo uma coisa que eu não gostava. Abandonei a publicidade quando comecei a ganhar prêmio como diretor de filme publicitário. Resolvi pegar um restinho de herança paterna e produzir um filme nas condições que eu tinha e com meu conhecimento técnico. Indiscutivelmente, o cinema publicitário me deu uma bagagem muito grande como diretor de fotografia. Eu aprendi a trabalhar em estúdio, com refletores pesados, com equipamento de ponta e a extrair muito do pouco. Botei em prática um projeto que estava apenas esboçado, que tinha como ponto de partida o romance Justine, do Marquês de Sade. Não tinha roteiro definido. A ideia era pegar um personagem feminino, uma atriz, sendo que cada homem que entrasse na vida dela obrigava o filme a mudar de gênero e estilo, uma forma ousada de fazer cinema. Fui estruturando o roteiro em função da produção, que determinava a estética. Roberto Santos dizia uma frase que eu acho perfeita: “O brasileiro é obrigado a transformar a falta de condições em elemento de criação”. Lilian M é um modelo disso.

MULHERES

Lilian M é o que determina meu interesse por personagens femininos em momento de libertação, em busca de um espaço próprio, no embate com machos cultos e outros incultos. Às vezes, essas personagens enfrentam uma violência extrema, num universo extremamente decadente e machista, barra pesada, e conseguem sobreviver com dignidade a essas situações mais ásperas. Na verdade, eu nunca tive medo em procurar as atrizes para meus filmes. Em lembro que quando convidei Sandra Bréa para filmar Capuzes negros todo mundo falava: “Você está louco, essa mulher vai te encher o saco, criar muitos problemas”. Fizeram um carnaval para descontratá-la e ela se transformou numa grande amiga. Quando fui trabalhar com Betty Faria em Anjos do arrabalde me falaram a mesma coisa. Hoje ela é minha amiga pessoal. Foi minha sócia na produção de Bens confiscados. Eu odeio uma coisa e sempre falo isso: você ser obrigado a representar a figura do diretor. Eu não trabalho com atores que me exijam isso. Na verdade, sempre tive a sorte de trabalhar mais com cúmplices do que com atores contratados.

A FIGURA DO PAI

O legado do meu pai foi a cultura, foi a coisa mais importante que tive na vida. Tive o privilégio, já disse isso pro meus filhos, de nunca ouvir meu pai dizer pegue aquele livro e vá ler. Ele estava disponível, era só ir buscar. Eu tive a sorte de ter um homem erudito dentro de casa e uma mãe muito inteligente também. Eles nunca me proibiram absolutamente nada, nunca me reprimiram… Na Europa me perguntam por que meus filmes não mexem com questões religiosas – muitos filmes brasileiros distribuídos na Europa tocam nestas questões, como a obra de Glauber Rocha. Eu tive uma educação excessivamente liberal num certo sentido. Fui batizado na Igreja Católica, formado na Igreja Luterana, pratiquei o Zen-budismo, estudei alto-ocultismo e frequentei todo tipo de manifestações espiritualistas, desde mesa-branca à umbanda. Eu tinha muita curiosidade em relação a isso. Tudo isso eu aceitei na minha vida até não se tornar proselitismo, a ter resposta única, aí eu pulava fora. Quando a coisa se tornava resposta pra tudo, panaceia, eu me desinteressava imediatamente. Minha formação no cinema foi acompanhada por essa fome de conhecimento. O cinema também foi a forma que introduziu certos elementos do conhecimento. Eu me interessei por dramaturgia clássica vendo Orson Welles, por filosofia vendo Dreyer e política assistindo aos filmes de Jean-Luc Godard. O cinema representou para mim aquilo que a biblioteca do meu representou na minha infância.

DIREITOS AUTORAIS

Eu soube, por exemplo, que tinha uma cópia de Dois Córregos copiada da TV disponibilizada na rede. Eu peguei uma aluna que estava ligada a esse fórum e disse: “Troca essa merda, não é uma cópia boa. Eu te dou um AVI e você substitui por uma fonte decente”. Eu não esse tenho pudor. Inclusive, eu compartilho filmes também. Filme foi feito para ser visto, não para ser escondido ou ser visto por uma meia dúzia de privilegiados. Eu posso dizer que meu acervo pessoal, o material que hoje eu dou aula, foi enriquecido em 90% graças ao compartilhamento na internet. Posso estudar uma determinada sequência de um filme graças a isso. Estive envolvido há pouco num evento muito importante, o Saber 2010, que teve a participação de professores do Brasil inteiro. É uma plataforma para uma lei criada por Cristóvão Buarque, o senador de Brasília, ainda não sancionada, que vai obrigar todas as escolas secundárias a exibir filmes brasileiros como parte do currículo. Nesta palestra, eu mostrei extrato de três filmes: a morte de baleia em Vidas secas, a cena em que um protagonista de São Paulo S.A. compra um terreno para construir uma indústria de autopeças na Avenida Anchieta, e a sequência do personagem de Jardel Filho, o poeta de Terra em transe, quando ele rompe com o político populista. Na hora, algumas pessoas perguntaram se os estudantes iriam entender este filme. Eu disse que todo filme que consegue fazer acordar em você a dimensão de sua ignorância é um serviço de utilidade pública.

ENSINO DE CINEMA

A gente vai fazer um simpósio online chamado A história do cinema – Um panorama geral, no dia 4 de dezembro, das 9h às 17h, pelo site http://www.sabertvaovivo.com.br. Eu, o escritor e crítico Inácio Araújo e o cineasta e crítico Bruno de André iremos apresentar temas específicos como De Lumière a intolerância, De Eisenstein a Metrópolis, A Segunda Guerra e suas sequelas, onde a gente vai poder falar de Neorrealismo, do cinema de combate ao Nazismo, do próprio cinema nazista, etc. Cada um apresenta seu tema até chegar ao cinema atual, depois a gente abre uma discussão entre nós. O internauta também vai poder participar enviando perguntas. Se esse projeto der certo pode ser uma porta aberta para a integração do ensino do cinema com o mundo virtual.

NOVA GERAÇÃO

Um garoto ou garota de 20/22 anos tem obrigação de ousar. Não dá para ele fazer portfólio de filme publicitário para ser funcionário da TV Globo. É inadmissível isso. Eu dizia para meus alunos, quando eu ensinava na ECA-USP: esta é a hora que você pode errar e ousar, não ter pudor nem medo de errar. É quando você tem estofo para levar porrada. É difícil para um cara que tem 60 anos, por exemplo, fazer um filme que dá errado. Este não pode ousar, porque pode ser o único filme que ele irá fazer.

Contra a caretice e os preconceitos

Diretor de ‘Falsa loura’, que será exibido hoje em Brasília, diz que cinema conservador é reflexo da sociedade

Por André Miranda, publicada em O Globo, em 24/11/07

Consagrado no Festival de Brasília de 1993, de onde saiu com o Candango pelo filme “Alma corsária”, o cineasta Carlos Reichenbach — ou Carlão, como é conhecido — está de volta à competição de filmes com “Falsa loura”,atração de hoje no Cine Brasília. O longa conta a história de uma operária que se envolve com dois ídolos da música,trio representado por Rosanne Mulholland, Cauã Reymond e Maurício Mattar. Isso mesmo: Cauã canta, Mattar volta a fazer cinema, e Rosanne desponta como a estrela do festival (ela também está em “Meu mundo em perigo”, de José Eduardo Belmonte). Nesta entrevista concedida no Hotel Nacional, sede do festival, o cineasta diz que já comprou DVD pirata, baixa filmes na internet e que é preciso repensar a distribuição no Brasil. — Cinema virou coisa de burguês — atesta.

O GLOBO: Aos 62 anos, você mantém um blog. Qual a sua relação com a internet?

CARLOS REICHENBACH: Tive três infartos, sendo que dois no telefone. Então aboli o telefone da minha vida e abri meu blog, o Reduto do Comodoro, há uns quatro anos. Tem sido uma forma de me comunicar com o mundo (neste momento, ele acende um cigarro).

Mesmo depois de três infartos, você ainda fuma?

REICHENBACH: Sou um tabagista ideológico. Defendo. Outro dia me ligaram para perguntar

por que o cinema ficou careta. Respondi que foi a sociedade que ficou careta. A sociedade permite que cada vez mais o Estado interfira no seu livre-arbítrio. E isso começa com o cigarro. Não é apenas uma questão de saúde.

É uma questão de moral?

REICHENBACH: O melhor filme que vi este ano foi “Os anjos exterminadores”, do Jean-Claude Brisseau. É um filme sobre o prazer da mulher onde os homens não entram. E os homens ficam completamente incomodados. É um filme libertário, uma exceção à regra. Nós estamos extremamente conservadores e pudicos.

 A que você atribui o público ruim do cinema brasileiro em 2007, mesmo com uma safra de filmes tão interessantes?

REICHENBACH: Ao preço do ingresso. A safra é boa, mas o acesso é complicado. Quando comecei a fumar, moleque, deixava de comprar um maço de cigarros para ver três filmes. Hoje, compro quatro maços e não vejo um filme. O cinema no mundo virou coisa de classe média alta, de burguês mesmo.

A pirataria, então, seria uma solução democrática?

REICHENBACH: Acho que o direito autoral, da forma como é hoje, serve para enriquecer major americana e abutre de família. Do autor mesmo, só se ouve história de que o cara morreu mal. O caminho é tentar encontrar uma fórmula, como os africanos têm feito. A Nigéria tem o terceiro maior mercado de cinema mundial. As pessoas produzem, copiam em casa e botam uma molecada para vender a um preço barato.

Você baixa filme na internet?

REICHENBACH: Claro, tem que baixar. Os filmes dos quais detenho poder, vou disponibilizar futuramente. Filme é para ser visto. Sou totalmente favorável ao compartilhamento de filmesque não estão acessíveis.

Você comprou “Tropa de elite” pirata?

REICHENBACH: Eu nunca tinha comprado um DVD pirata. Um dia fui numa banca e pedi o “Tropa de choque”. Aí o cara falou que eu deveria estar querendo o “filme sobre o Bope”. Fui pagar com R$ 10, e ele disse que eu tinha que levar mais dois. Acabei comprando também o último do Bourne (“Supremacia Bourne”) e o “Duro de matar IV”. Eu queria descobrir como os filmes estão sendo copiados e distribuídos.

E o que você achou de “Tropa de elite”?

REICHENBACH: Acho eficientíssimo. Tem a força de um faroeste. Existe um grande problema, que eu já vivi com o “Garotas do ABC”, que é a cobrança em relação a filmes que tratam de questões atuais. Não entendo como falaram mal do “Brasília 18%”, do Nelson Pereira dos Santos. Não entendo o tipo de crítica feita ao “Carandiru”, do Babenco. As pessoas estão querendo ver a sua leitura da realidade e fazem uma crítica burra, deixando o mérito do filme de lado. A ponto de eu resolver não fazer mais filmes sobre a realidade.

Mas o “Falsa loura” parte da história de uma operária…

REICHENBACH: Mas ele é universal, lida com sentimentos, com uma violência interna.

A escolha do elenco do “Falsa loura” desperta curiosidade.

REICHENBACH: As pessoas têm muito preconceito, mas eles são uma delícia de se quebrar. O ótimo rendimento da Rosanne Mulholland fez com que a gente mudasse o roteiro na edição. Gosto do Maurício Mattar desde o “Kuarup” (1989), do Ruy Guerra. E o Cauã foi uma aposta arriscada, porque ele não sabia cantar e teve que cantar. E ficou bem na tela. Minha idéia era pegar um cantor e transformar em ator. Cheguei a pensar no Amarante, do Los Hermanos.

Depois de mais de 40 anos fazendo cinema, o que ainda o motiva a filmar?

REICHENBACH: O cinema é meu meio de expressão. Não é para ganhar dinheiro ou fazer carreira fora do Brasil. Meu próximo filme, por exemplo, parte da minha experiência com a morte. Vai ser sobre um cara que, no pós-operatório, começa a recuperar a liberdade do imaginário. Vai se chamar “O mar das mulheres mortas”. Devo terminar o roteiro até fevereiro

Parte 1

Parte 3

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2 comentários sobre “Carlos Reichembach – Parte II

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