De 05 a 13 de junho foi realizado o 8º Olhar de Cinema em Curitiba. Como de costume, lançamos agora o dossiê Abraccine com uma copilação da cobertura realizada por nossos associados. Além dos textos inéditos dos membros do júri Ivonete Pinto, Marcelo Müller e Bárbara Demerov. Clique no link para ler o texto completo:
Diga a ela que me viu chorar
“O documentário tem o mérito de colocar em evidência essas pessoas, que normalmente são invisíveis ou, quando focalizadas, nunca têm sua humanidade reconhecida o suficiente. Aqui, não. São tratados como gente, ouvidos em suas queixas e com seus relacionamentos afetivos postos em primeiro plano. Também fica muito claro o quanto é complicado manter essas relações diante do turbilhão emocional de todos eles. O cotidiano deste hotel, também levando em conta a dificuldade das mediações impostas a assistentes sociais e outros atendentes, é simplesmente avassalador.” Neusa Barbosa
Cobertura completa de Neusa Barbosa no Cineweb
A Portuguesa
“Então, ‘A Portuguesa’, à parte a força evocativa e atualizadora da adaptação de Agustina Bessa-Luís, é um filme que se manifesta para além dos diálogos e do “enredo”. Sua grandeza reside, sobretudo, no artesanato vigoroso da composição dos planos, no regrado movimento dos atores, na imobilidade das convicções de seus personagens traduzida em imagens luminosas, justas. Tudo isso lhe confere um encanto peculiar, o da vida em si preservada, (re)imaginada e constante, como se da guerra não tivéssemos mais necessidade para nos sentirmos em paz.” Adolfo Gomes
Outros textos de Adolfo Gomes no Scream & Yell
Espero Tua (Re)volta
“Além da política institucional, a política cotidiana é posta: trata-se de uma geração de adolescentes que aprendeu sozinha a reivindicar seu lugar, a colocar seu corpo, sua etnia, seu gênero e sua sexualidade como pautas centrais nas suas vidas. A violência policial cotidiana (e suas estratégias de sobrevivência) e o racismo institucional são relatados quase que com banalidade, não sem seus traumas, mas pela constância e com que ocorrem. Da aceitação do cabelo crespo, usando o tráfico de pessoas negras para escravidão como ponto de reflexão, passando pela possibilidade de se relacionar com quem deseja às reivindicações de direitos das mulheres, usando as sufragistas inglesas como exemplo e o fato do movimento estudantil se majoritariamente liderado por mulheres, eles deixam claro que a revolução passa por seus corpos e toda identidade é política”. Isabel Wittmann
Cobertura completa de Isabel Wittmann no site Estante da Sala
Família da Madrugada
“O diretor norte-americano Luke Lorentzen tem a felicidade de coletar material riquíssimo que é ao mesmo tempo retrato de certo intimismo nas relações interpessoais e também denúncia da precarização do trabalho. O cineasta acompanhou a rotina de trabalho da família Ochoa (pai e dois filhos, um deles ainda uma criança que, vez ou outra, acompanha as corridas dos mais velhos, como extensão de uma brincadeira, para que não fique sozinho em casa) e demais pessoas. Trata-se de uma reunião essencialmente masculina, uma vez que a mãe é uma figura ausente (não está presente na vida deles ou não quis aparecer no filme, não sabemos) e somente em um momento, em casa, aparece a filha/irmã em rápida cena.” Rafael Carvalho
Outros textos de Rafael Carvalho no Cineinsite e no Moviola Digital
Étangs noirs
“Desde a primeira cena até a última, o foco de Étangs noirs está no pacote. Ele é claramente um MacGuffin hitchcockiano (como assumiu Dumoulin num bate-papo após a sessão) para que nos interessemos na busca quase obsessiva de Jimi para entregar o tal pacote a sua destinatária. O que há no pacote não sabemos, e o que motiva a determinação de Jimi também não. Assim sendo, parece sobrar pouco para nos envolvermos com Étangs noirs. O que sobra é exatamente a sua forma. A câmera colada quase que em toda a duração do filme em Cédric parece querer nos fazer adivinhar o que se passa na cabeça daquele jovem, negro e tão íntegro em sua determinação e moral. Talvez esse seja o principal (único?) trunfo temático do filme.” Luiz Joaquim
Cobertura completa de Luiz Joaquim no Cinema Escrito
Banquete Coutinho
“Coutinho não romantizava ou idealizava seus personagens, tampouco os via com grandiloquência. Na entrevista a Veloso, inclusive, assume que tem consciência de que as pessoas entrevistadas por ele não eram extraordinárias; extraordinários seriam os poucos minutos em frente à câmera. “Momentos mágicos”, conclui. Mas há algo inegável que está no interesse genuíno de Coutinho pelas pessoas e o respeito por elas está resumido nesta última imagem do filme. Mesmo para os espectadores para os quais este documentário de Veloso não acrescenta muito à compreensão a esta figura ímpar que foi Coutinho, encerrar com o rosto de dona Elizabeth Teixeira olhando para a câmera tem a ver com deleite, que tem a ver com banquete. Que tem a ver com morte.” Ivonete Pinto
Outro texto de Ivonete Pinto no Calvero
No Alto da Montanha
“No Alto da Montanha chama atenção, no início, pela beleza da composição imagética. Não são apenas os enquadramentos e a disposição dos elementos que criam a exuberância visual, mas a forma como as cores são trabalhadas. O método do realizador cria uma camada narrativa de fertilidade impressionante, por tornar indiscerníveis a ação e seu retrato, ou seja, os acontecimentos (manipulados pelo criador) e a captura desses fragmentos do real. Evocando com isso uma espécie de mistério, Yang Zhang embaça habilmente os tão desgastados limites entre documentário e ficção, mirando a prevalência de certa autenticidade, sem com isso privar-se de operações claramente derivadas da encenação. Exemplo disso os raccords que provocam a troca de perspectivas numa mesma cena, resultados desse jogo que permite à câmera uma liberdade sobressalente. Gradativamente, os personagens deixam à mostra as suas intimidades e os questionamentos mais urgentes.” Marcelo Müller
Cobertura completa de Marcelo Müller no Papo de Cinema