“De uma forma inteligente, os diretores procuram contextos e conexões com o que está ocorrendo fora de seu epicentro, utilizando na montagem cenas de violência policial e passeatas pela igualdade de gênero não só do Brasil, como em outros países – lembrando que a inquietação por novos valores é universal. E cabe à intelectual norte-americana Judith Butler, numa participação em vídeo, a definição de uma das buscas mais caras que resultaram deste filme – a busca de alianças. As afinidades que se procura entre grupos são em torno de patamares mínimos de civilização e respeito entre todas as diferenças. Diversidade, acima de tudo – e é em torno dela que o filme abre com uma saudação à deusa asteca Tlazoltéotl.”
Por Neusa Barbosa
“A simples presença daqueles corpos ocupando um espaço que muitas vezes lhes é negado se torna um ato político ao qual Para Onde Voam as Feiticeiras cumpre com satisfação, mas que o projeto, tanto da performance pública quanto do filme, não consegue transformar em discurso político efetivo. Se Eliane Caffé não tem medo de mostrar os momentos em que é confrontada dentro de seus privilégios – embora não reflita tanto sobre isso –, assim como retrata os embates entre as próprias lutas identitárias e a dificuldade de formar alianças, na mensagem final ao público, o confronto ainda se sobrepõe ao diálogo, alternando momentos genuínos de troca com os transeuntes e outros de um olhar condescendente dos protagonistas ou da câmera para aqueles personagens típicos do centro paulistano ou de qualquer metrópole brasileira.”
Por Nayara Reynaud
“A complexidade da identidade de gênero e as possibilidades de se expressar em sua sexualidade abrem leques não apenas para discussões e performances musicais. São também uma oportunidade para refletir sobre a complexidade dos seres humanos e que rótulos são apenas formas de encaixe que também geram preconceito. Para onde voam as feiticeiras é mais do que um documentário. É um manifesto repleto de nuances e possibilidades técnicas, estéticas e temáticas. Voam soltas não se sabe exatamente para onde, mas também não fazem questão de delimitar. A abertura à possibilidades é o que faz dessa obra algo especial.”
Por Amanda Aouad
“O debate sobre as pautas identitárias, especialmente de gênero e raça, tem ganhado proeminência e espaço no cinema há um bom tempo, e Para Onde Voam as Feiticeiras é um ótimo exemplo de como um filme pode reinventar essa discussão, por vezes dizendo coisas um tanto óbvias para quem já está acostumado a esse tipo de proposição sobre o tema, mas friccionando-a no próprio encontro e confronto que o documentário permite e cria no seu dispositivo que mistura intervenção e performance de um modo um tanto caótico, mas não menos desestabilizador. Mas isso se deve aos próprios embates que se dão no filme e menos pelo modo desordenado com que se apresenta narrativamente – outros filmes podem até se beneficiar desse tipo de desregramento, o que não é o caso aqui, mas também não é algo que atrapalha.”
Por Rafael Carvalho
“Para Onde Voam as Feiticeiras se propõe a discutir abertamente as mazelas da sociedade contemporânea, da homofobia à violência contra o povo indígena, com tamanha intensidade que todos que passam em meio às conversas, no centro de São Paulo, param para assistir e/ou participar. O próprio filme mostra que a abordagem política funciona quando é iniciada com performances artísticas. É como se fosse aberto um espaço de diálogo e troca, sendo a arte o principal elo que une ambos os lados. Mas é claro que nem todos os momentos trazem flores, tendo como destaque a cena em que o grupo tenta dialogar com religiosos em uma praça. A reação de um lado é violenta, intolerante.”
Por Barbara Demerov