Luiz Vita*
Depois de dirigir três curtas, a diretora argentina Natalia Garagiola faz sua estreia em longas com um drama maduro sobre o difícil relacionamento entre pai e filho, tendo como cenário o ambiente primitivo de uma Patagônia nem um pouco acolhedora, mais próxima de estimular uma catarse agressiva em personagens obrigados a conviver nesse ambiente inóspito e gelado.
E Natalia se sai bem ao colocar sua câmara no ambiente masculino de um território de caça, no qual sobrevivência e busca de afeto parecem disputar um rarefeito espaço de convivência. O registro supernaturalista, com a câmara na mão, permite, segundo a diretora, que os detalhes para a compreensão do drama vivido pelo adolescente se imponham de forma gradual.
O protagonista é o jovem Nahuel (Lautaro Bettoni), que se envolve em uma briga violenta durante uma partida de rugby e acaba abandonando a escola e o padrasto, em Buenos Aires, para passar uma temporada com o pai, Ernesto (Germán Palacios) que trabalha em um parque onde é permitida, mas controlada, a caça de cervos. Ernesto é um homem rude, talhado pelo ambiente em que vive, e procura acolher o filho, que repele de forma agressiva qualquer forma de aproximação. No clima inóspito da Patagônia, as razões do ressentimento estão próximas de vir à tona, rompendo a incomunicabilidade de Nahuel .
Como observa a diretora, a luta e o abraço nesse ambiente exclusivamente masculino funcionam como uma dança, e é preciso entender esse movimento para se chegar ao fundo da dor de Nahuel, e indagar se poderá haver a reconciliação entre esses dois homens. Exibido no festival de Veneza de 2017, o drama argentino recebeu o prêmio de público.
*Luiz Vita é crítico cinematográfico e membro da Abraccine.
*Texto originalmente publicado no CineWeb
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