Neusa Barbosa*
O celebrado diretor do documentário Eu não sou seu negro, o haitiano Raoul Peck, volta com um inspirado drama biográfico, sobre os anos de juventude de dois homens que mudaram o mundo: Karl Marx e Friedrich Engels. No roteiro, assinado por Peck e Pascal Bonitzer, Marx (August Diehl) é um jovem de menos de 30 anos, jornalista e polemista, que começa a interessar-se pelos mecanismos que regem a exploração do homem pelo homem. Mas é pobre, casado com uma mulher nobre que abandonou seu clã por amor, Jenny (Vicky Krieps), e tem que enfrentar os dilemas da sobrevivência, além da perseguição da polícia ao seu ativismo. Num encontro desses que estão destinados a mudar a história do mundo, conhece Engels (Stefan Konarske), herdeiro rebelde de tecelagens que estão, naquele momento, sendo o cenário das jornadas de trabalho análogas à escravidão que caracterizaram a Revolução Industrial, em meados dos anos 1840.
Dessa amizade inusitada entre dois homens de origens muito diferentes nasce uma parceria intelectual ativa, que os levará ao encontro de outros socialistas da época, como o francês Proudhon (Olivier Gourmet), um dos muitos aos quais eles abraçarão, para depois superar, em livros como A Sagrada Família e, depois, o incontornável O capital, obra máxima de Marx.
Um ponto positivo do filme é conseguir equilibrar as complexas discussões teóricas que incendiaram o século 19 com os aspectos pessoais de cada um destes personagens cruciais, o que só valoriza o esforço de cada um para superar os limites de sua época e contextos familiares. Outro aspecto singular é enfatizar a participação de Jenny, a mulher de Marx, como uma parceira intelectual que contribuiu para alargar seus horizontes e apoiá-lo em sua trajetória. Não, a sra. Marx não era uma mera “grande mulher atrás de um grande homem”.
E, para quem sentir que o filme está aquém do anterior de Peck, o contundente Eu não sou seu negro, basta pensar o quanto O jovem Karl Marx reflete o momento atual de crises econômicas e sociais. Só faltam os novos Marx e Engels.
*Neusa Barbosa é jornalista e crítica cinematográfica, membro da Abraccine.
Texto originalmente publicado no CineWeb.
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