28º Mostra de Tiradentes | “Para Lota”: Uma viagem pelas memórias do Aterro do Flamengo

por Barbara Demerov*

"Para Lota" - Divulgação
“Para Lota” – Divulgação

Com direção de Ricardo Pretti e Bruno Safadi, “Para Lota” foi exibido durante a 28º Mostra de Cinema de Tiradentes, dentro da Mostra Autorias. O filme foi um dos mais diferenciados na seleção deste ano — e isso se deve pelo estilo e pela linguagem escolhidos pelos realizadores. Trata-se de um plano-sequência em que o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, o segundo maior parque urbano do mundo, é exibido durante toda a duração do filme. 

As imagens são captadas em movimento de travelling e percorrem os quilômetros do parque à noite. Praticamente não há cortes, com exceção de algumas breves pausas de tela preta. Enquanto isso, ouvimos a narração de Leandra Leal como Lota Macedo Soares, a arquiteta do Aterro do Flamengo, através de cartas reais que foram escritas pela mesma entre as décadas de 1950 e 1960. A ausência de variações das imagens é notada logo no início da projeção, mas a interpretação na voz de Leandra já é o suficiente para que o espectador entenda a tamanha importância daquele espaço para ela.

As cartas são endereçadas ao governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, e correspondem a momentos dos mais diversos: de trocas de ideias animadas para o parque a trechos que deixam claras as mágoas de Lota para com Lacerda, além de pedidos específicos para que o governo priorize o parque. Seu rosto não aparece, porém sua voz (através de Leandra) e sua determinação são marcantes por si só.

Ao expor apenas as imagens do parque e algumas de arquivo, os diretores fazem uma escolha diferenciada e um tanto corajosa, capaz de provocar a atenção por ser inusitada. Mas, ao mesmo tempo em que ela pode instigar gradualmente o espectador ao longo da projeção, também pode distanciá-lo caso não exista o mínimo de compreensão sobre o que aquele espaço do Rio de Janeiro significa. 

Contando as origens do Aterro através das palavras de sua criadora, o documentário ganha uma camada bastante reflexiva — que é intensificada após Leandra Leal dar espaço à voz de Mariana Ximenes, cuja narração representa os dias atuais.

*Barbara Demerov integrou o Júri Abraccine na 28ª Mostra de Tiradentes.

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