Morre crítico Marcello Castilho Avellar aos 50 anos

NOTA DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MARCELLO CASTILHO AVELLAR

A Associação Mineira de Críticos de Cinema lamenta profundamente a perda de seu mais experiente membro e um dos principais nomes da crítica de arte e do jornalismo cultural em Minas Gerais, Marcello Castilho Avellar.

Marcello completaria 51 anos no próximo dia 29 de dezembro. De acordo com informações do jornal O Estado de Minas, onde ele atuou por 30 anos no caderno de Cultura, Marcello morreu em seu apartamento no bairro Floresta, em Belo Horizonte, na tarde dessa terça-feira, dia 1º de novembro. Marcello, que também era professor de Teatro na PUC Minas, estava sozinho em casa e morreu de causa natural.

Marcello participou ativamente das duas primeiras ações da nova Associação Mineira de Críticos de Cinema: a criação do Prêmio José Tavares de Barros, que elegeu O Escritor Fantasma, de Roman Polanski, o melhor filme de 2010; e a primeira exibição pública em Belo Horizonte de A Serbian Film – Terror Sem Limites, realizada no Galpão Cine Horto, em agosto, seguida de debate sobre a censura imposta ao filme pela Justiça.

Os membros da Associação Mineira de Críticos de Cinema se solidarizam aos familiares de Marcello neste momento de dor e prestam uma homenagem pessoal a este ilustre profissional e colega de trabalho nas linhas a seguir:

Geraldo Veloso – cineasta

“Acho que perdi um irmão. Um companheiro de estrada que, muito menino, assisti aos seus primeiros passos na crítica, no Estado de Minas, na Seção de Cinema, que reunia, em torno de Ricardo Gomes Leite, Paulo Augusto Gomes, Mário Alves Coutinho, Paulo Vilara e outros, o Grupo Cachoeira (do qual fez parte), surgido de um curso do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) de Minas Gerais, no final dos anos setenta. Do grupo faziam parte Fábio Leite, Alcino Leite Neto, Ivan Cláudio, Cássio Starling Carlos, Fernando Pires da Fonseca, Marcelo Brum e muitos outros apaixonados pelo cinema.

Marcello, homem de sete instrumentos, acompanhou, ao piano, a primeira apresentação pública de meu segundo longa-metragem, Homo Sapiens, no Cine Humberto Mauro, em 1983, numa sessão emocionante. Improvisou sem ter visto o filme antes. E sempre foi muito generoso com o meu trabalho.

Era o Presidente do Conselho Curador do CEC (ao qual deu grande parte das suas energias por mais de trinta anos), justo agora no ano que o CEC faz sessenta anos de existência.

A vida corre. Estamos sobreviventes a estas perdas preciosas. Que fique em paz”.

Leo Cunha – colunista da revista eletrônica Filmes Polvo

“Eu cresci lendo o Marcello no Estado de Minas, desde os anos 1980 ele foi parte importante da minha formação em cinema, teatro, literatura. Sempre tive admiração pelo Marcelo, sempre citei os textos dele para os meus alunos, sempre incluí nas minhas apostilas. Embora tivesse aquele jeito fechadão, seus textos eram exatamente o oposto do que muita gente chama de “crítico ranzinza”. Era um sujeito que conseguia mesclar leveza, profundidade, inteligência, generosidade e bom humor em suas críticas. Vai fazer falta demais!”

Marcelo Miranda – crítico de cinema e repórter do jornal O Tempo e colunista da revista eletrônica Filmes Polvo

“Eu soube da morte de Marcello Castilho Avellar segundos antes de entrar para uma sessão de cinema na Mostra de São Paulo – justamente no Museu da Imagem e do Som, onde há poucos dias foi velado o corpo de Leon Cakoff, cujo obituário foi um dos últimos textos do Castilho. Este foi o ano que ele mais se aproximou de colegas como eu, Pablo Villaça, Paulo Henrique Silva, Rafael Ciccarini e Renato Silveira. Em agosto, mobilizou-se fortemente conosco contra a censura a A Serbian Film – Terror Sem Limites, e foi ele quem sugeriu de realizarmos nosso protesto no Galpão Cine Horto, que nos acolheu de imediato.

Intimamente, conheci-o pouco, até porque ele não fazia questão de ser simpático ou solícito nas cabines onde nos esbarrávamos. Mas, com a ascensão do Facebook, Castilho passou a se apresentar mais abertamente. Especificamente comigo, não perdia oportunidade de debater postagens e mantinha conversas virtuais longas. Nos papos virtuais privados, sempre com frases breves e diretas, demonstrava parte da sensibilidade que se sentia em seus textos críticos, mas também uma surpreendente (ao menos a mim) doçura e atenção. Tínhamos diferenças fortes, e ele tinha aspectos controversos profissionalmente, mas, independente disso, eu o via como uma figura representativa em Minas, até por ser o crítico de cinema há mais tempo em atividade dentre os atualmente na ativa em Belo Horizonte e por sempre demonstrar profunda inteligência e conhecimento nos assuntos que abordava. Seu desaparecimento, especialmente neste momento, provoca uma dor estranha e inesperada. Há mais a falar. E será dito. Fique agora em paz, moço”.

Pablo Villaça – crítico de cinema e criador do site Cinema em Cena e diretor da OFCS – Online Film Critics Society

“50 anos não é idade para morrer. Muito menos quando se trata de uma mente como a de Marcello Castilho Avellar, que escrevia de forma simples, acessível, mas sempre envolvente, apresentando suas ideias e argumentos de maneira organizada e eloquente – e mesmo quando eu discordava frontalmente de suas opiniões acerca de um filme, por exemplo (o que acontecia com certa frequência), não podia deixar de negar a clareza de suas posições e de refletir sobre o que ele escrevera. Mas isto é natural, considerando que, além de crítico, Marcello era professor e a didática estava em seus genes.

Depois da proibição de A Serbian Film – Terror Sem Limites, decidimos promover uma exibição pública do longa antecipada por um debate do qual participaríamos Marcello Castilho, Marcelo Miranda, Rafael Ciccarini e eu. E foi ali que, antes do debate, Marcello se aproximou de mim e começou a puxar papo como se já fôssemos velhos amigos, comentando não só questões relacionadas ao filme, mas também assuntos diversos. Depois de tantos anos, eu finalmente o ouvia dizendo meu nome.

Uma morte que eu e meus companheiros da crítica lamentamos profundamente, bem como os milhares de leitores de Marcello e, claro, seus familiares. Perdi hoje um colega talentoso e sensível. E, de certa forma é um consolo dizer, também um amigo. Obrigado, Marcello, por seus escritos e por ter permitido que seus companheiros de profissão que já o admiravam profissionalmente pudessem finalmente se aproximar e admirá-lo também como indivíduo”.

Paulo Henrique Silva – crítico de cinema e repórter do jornal Hoje em Dia e integrante da diretoria da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine)

“Pertencente a uma geração de críticos mineiros que, nos anos de 1980, ainda teve tempo de usufruir de espaços generosos nas análises de cinema, Avellar atravessou as mudanças do jornalismo cultural mantendo o mesmo olhar dedicado e carinhoso aos filmes e, principalmente, ajudando a fortalecer o papel histórico da crítica de Minas na trajetória do cinema brasileiro. Esperamos que, do lugar onde está agora, ele continue a nos guiar, como exemplo de profissional competente e zeloso de seu trabalho junto a leitores que acompanharam seus textos por décadas.

É lamentável que, neste momento histórico de união dos críticos de cinemas de todo o país, através da criação Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), que Avellar esperava se juntar, e da Associação Mineira de Críticos de Cinema, não podermos contar mais com a sua preciosa colaboração. Mas fica na mente de seus colegas o empenho com que participou de uma das primeiras ações da associação mineira ao exibir A Serbian Film – Terror Sem Limites no Galpão Cine Horto, em agosto último, engrossando o ato contra a censura à produção sérvia”.

Rafael Ciccarini – editor da revista eletrônica Filmes Polvo e gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado

“Perplexo com a ida precoce do Marcello, de quem era leitor e há alguns anos colega de ofício. Tive a oportunidade de estar com ele em algumas mesas de debate formais e informais, mas me lembro especificamente de uma tarde passada no Maletta, talvez a única vez em que partilhei momentos mais íntimos com ele. Foram horas a debater o cinema e a partir dele uma série de outros assuntos e artes, porém, para além de sua capacidade de articulação e erudição inequívoca, o que me marcou foi a profunda paixão e respeito com que falava daquilo que amava: a arte. Marcello não dizia ou escrevia palavras em vão: concordássemos com ele ou não, era impossível não ouvi-lo com fascinação e com respeito que merecia e continuará sempre merecendo. Vai deixar uma lacuna imensa. Em nome da Revista Eletrônica Filmes Polvo, deixo a saudação à sua memória e nosso abraço fraterno e saudoso”.

Renato Silveira – editor-chefe do site Cinema em Cena e crítico de cinema da Rádio Inconfidência e do site Cinematório

“Apesar de não ter tido muito contato pessoal com Marcello Castilho Avellar, ele participou da minha formação acadêmica e profissional quando fiz estágio curricular no Estado de Minas, em 2003. Lembro que fomos a uma sessão de imprensa de O Americano Tranquilo e escrevi uma crítica do filme para ele avaliar. Confesso que fiquei nervoso com a experiência de estar lado a lado numa redação com Marcello, que tinha aquele jeito meio distante e aparentemente rabugento. Ele escrevia sobre As Horas naquele mesmo dia e eu temia desconcentrá-lo. Mas bastou um primeiro contato para que toda aquela primeira impressão fosse desfeita. A avaliação que ele fez da minha crítica foi profundamente profissional e até hoje levo em consideração as breves, mas importantes dicas que ele me deu. Perdemos um de nossos mais experientes e sábios profissionais, gostem ou não do que ele escrevia, concordem ou não com suas opiniões. Sentiremos imensamente sua falta”.

Tullio Dias – editor do site Cinema de Buteco e redator do site Cinema em Cena

“Sempre que chegava sexta-feira eu abria o caderno especial de cultura do Estado de Minas e lia atentamente as críticas sobre os filmes que estavam entrando em cartaz. A maioria desses textos saiu das mãos e cabeça de uma pessoa que eu não cheguei a conhecer pessoalmente. Percebi que mesmo os que conheceram, comentaram sobre o quanto ele era tímido, meio antissocial, embora tivesse uma sensibilidade e educação fora de série.

Seus textos, não apenas sobre cinema, sempre foram recheados de informação e capazes de dialogar com todo tipo de público. Era sempre uma bela aula de comunicação. A crítica cultural mineira sentirá muita falta de uma de suas principais vozes. E que descanse em paz”.

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