Por Robledo Milani (RS)
Sinfonia da Necrópole
Um musical no cemitério. Assim tem se apresentado Sinfonia da Necrópole, primeiro longa-metragem dirigido por Juliana Rojas, que até então havia apenas assinado a codireção do premiado Trabalhar Cansa (2011), além vários e badalados curtas. Exibido pela primeira vez no 6th Paulínia Film Festival, foi selecionado também para o 42° Festival de Cinema de Gramado, o que já significa muito sobre o perfil da obra: é um trabalho voltado a um público preparado, em busca de material inovador e alternativo, exatamente como se costuma encontrar nas plateias dos principais eventos cinematográficos pelo país. O espectador médio, aquele em busca mais de entretenimento do que cultura, certamente irá estranhar a ousada proposta da realizadora.
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Infância
Após ter ficado quase vinte anos sem filmar – entre Teu Tua (1979) e Amores (1998) –Domingos Oliveira vem mantendo um ritmo intenso de produção desde a sua ‘retomada’ pessoal. Foram quase dez filmes em pouco mais de uma década, e em comum todos possuem o fato de serem muito típicos entre si, como se bastasse a presença do cineasta atrás – ou em frente – das câmeras para se ter um gênero por si só. Domingos é uma assinatura, e poucos realizadores nacionais conseguiram tal estatura. Seu mais recente trabalho, no entanto, é um dos mais íntimos, porém carece de algo a mais que o torne também atraente e, principalmente, interessante. Em Infância, o diretor revisita sua própria história, e a sensação que temos ao vê-la agora é exatamente a mesma proporcionada quando revemos algo que ficou marcado no nosso passado: sem graça e desestimulante.
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Por William Silveira
A Estrada 47
O Brasil se esquece de si com facilidade. Essa é a impressão que A Estrada 47, coprodução com Portugal e Itália, nos deixa ao tocar em um episódio importante e quase silencioso da história do país. Escrito e dirigido por Vicente Ferraz (Soy Cuba: O mamute siberiano, 2005), o longa conta o drama de um grupo de engenheiros enviados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) para auxiliar os Aliados durante a Segunda Guerra, na Itália.
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A Despedida
A questão não é suprir o que nos falta, mas lidar com aquilo que, uma vez dado, nos é tirado. É durante este crucial – para não dizer cruel – processo que somos apresentados ao novo filme de Marcelo Galvão. O diretor que trouxe ao Festival de Gramado o amável e muito bom Colegas, dois anos atrás, retorna com um drama inegavelmente pesado e tocante.
Inspirada no avô de Galvão, a história traz Almirante, um senhor de 90 ou mais anos, que ao sentir-se consumido pela velhice, decide focar o tempo e a força restantes em momentos especiais. Se a cena inicial, em que acompanhamos o despertar do protagonista, nos permite sentir a batalha entre a vontade de viver e a debilidade física, o pedido de perdão feito a um amigo há muito distante transparece a noção que o personagem tem frente à presença da morte.
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Por Marcelo Müller
Balões, lembranças e pedaços de nossa vida
A narração em off associada às imagens das festas de aniversário do cineasta Frederico Pinto quando criança, entre outras gravações de momentos familiares, deflagra, num primeiro instante, a pessoalidade de Balões, Lembranças e Pedaços de Nossas Vidas. Mas mesmo quando o filme salta a outros relatos, ou seja, a histórias alheias, há traços de intimidade, como se o criador se apropriasse da memória de outrem para construir um painel sobre suas próprias lembranças. O tom confessional, e até certo ponto cômico, dos comentários que ilustram o material familiar, logo dá lugar a outras vozes e imagens.
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Janeiro 27
Reconstituir uma tragédia, ficcional ou documentalmente, é revivê-la. No dia 27 de janeiro de 2013, a cidade de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, teve um de seus episódios mais devastadores, com a morte de 242 pessoas no incêndio que consumiu a boate Kiss. O mundo voltou seus olhos para o acontecido, em lamentos que foram desde a mais pura solidariedade até a indignação com a falta de segurança que propiciou o incidente. Parte da comunidade local, ainda em meio à dor que parece não cessar, começou diversos movimentos que visam preservar a memória dos mortos, além de providenciar para que tal episódio não se repita. Janeiro 27, dirigido a quatro mãos por Luiz Alberto Cassol e Paulo Nascimento, artistas com ligações estreitas com a cidade, procura entender um pouco as circunstâncias, tomando depoimentos, sobretudo de familiares dos mortos.
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