Carelli / Tonacci

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Cena de “Conversas no Maranhão” (1978)

Vincent Carelli*

Conheci Andrea Tonacci em 1977, quando ele procurou o Centro de trabalho Indigenista (CTI), onde eu trabalhava, para pedir uma ajuda para a formatação de um projeto para a Guggenheim chamado Inter Povos. Sua proposta era usar o vídeo, e nesta época o vídeo portátil ainda estava muito no começo, para criar uma rede de dialogo entre povos indígenas.

Nos reunimos alguns dias com ele, o cineasta Walter Rogério e a equipe do CTI e produzimos o projeto que foi aprovado. O Andrea estava muito entusiasmado com o início deste novo trabalho: como seria o olhar do índio. Ele fez em 1978 para começar um recorrido dos Estados Unidos, Peru e Brasil, filmando mensagens em branco e preto mensagens de um povo para outro.

A parceria continuou mas na forma de um documentário em 16 mm entre os índios Canela do Maranhão que estavam tendo as suas terras demarcadas, e a equipe do CTI ajuda os índios a embargarem a demarcação que reduziu a área reclamada pelos índios. O filme “Conversas no Maranhão” resultou num lindo documentário em cinema direto. Ele só veio a filmar de novo em vídeo na frente de atração dos índios Arara no Pará, mas a obra que veio coroar a sua incursão pelo mundo indígena foi sem dúvida “Serras da Desordem”.

Anos mais tarde, com a chegada do VHS, Andrea foi a minha inspiração para me lançar na aventura do Vídeo nas Aldeias. Com a dinâmica de filmar e mostrar, a provocação era mostrar aos índios que eles poderiam produzir suas imagens com aquela câmera e a resposta dos índios foi estupenda. Tivemos vários amigos em comum.

O que instigava Andréa era descobrir o olhar do outro. Dez anos mais tarde eu começava a trabalhar nisso, na formação dos cineastas indígenas. Tivemos um belo encontro no final para rever o material de1978 e ajudá-lo a pensar um grande encontro de índios envolvidos com audiovisual, que acabou se realizando no Forumdoc e no Instituto Itaú. Um encontro e uma devolução, uma bela despedida. Saudades deste amigo vibrante.

* Vincent Carelli é cineasta; dirigiu os longas “Corumbiara” e “Martírio”; depoimento exclusivo para o site da Abraccine.

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