Balanços do XVI Cine PE (2012)

Uma avaliação ampla das obras

Por João Nunes *

A seleção de longas-metragens do Cine PE Festival do Audiovisual deste ano (a 16ª edição, realizada entre 26 de abril e 2 de maio) foi bem superior à de 2010 e 2011. Até os trabalhos desprovidos de qualquer tipo de ousadia no uso da linguagem tiveram a preocupação de investir no quesito técnico. Assim, não competiu nenhum filme sofrível, o que valorizou a disputa. Infelizmente, o júri se revelou conservador na escolha dos melhores – um direito que a natureza da função lhe confere.

A começar pelo eleito como melhor filme – definição de ordem naturalmente subjetiva. O júri nem tem obrigação de premiar o mais audacioso; pode apostar na melhor produção, a mais simpática, a que chega mais próxima do público. Foi o que fez, porém terá de arcar com o custo das críticas.

À Beira do Caminho (Breno Silveira) – que ganhou filme, ator, ator coadjuvante, trilha e roteiro – até se encaixa nestas características, pois resulta simpático e talvez dialogue com o público. No entanto, o melodrama simplista do encontro de dois estranhos que se aproximam aos poucos se sobressai na exuberância da fotografia de Lula Carvalho, na produção bem cuidada e na presença do bom ator João Miguel. O descompasso reside na falta de roteiro mais sólido, na pouca ambição do diretor no que se refere à linguagem e no excesso da música, que não permite respiro do espectador.

E premiar uma criança (mesmo coadjuvante) é, no mínimo, temerário. Vinícius Nascimento parece ser um garoto esperto, lúcido e tem momentos interessantes, mas precisaria de muita estrada para ganhar a estatueta. Na verdade, premiação precoce pode ser até desestímulo para futuros e necessários aprendizados.

Paraísos Artificiais (Marcos Prado) – que ficou com o prêmio de montagem, fotografia, edição de som e atriz coadjuvante para Divana Brandão – se encaixaria melhor na linha de filme bem produzido que dialoga com público. A diferença está no tratamento. Enquanto À Beira do Caminho assume a correção política e procura obsessivamente o final redentor, Paraísos Artificiais transita pelo terreno pantanoso do uso desmedido da droga e do sexo entre duas amigas. E se a música saturada de À Beira do Caminho incomoda, em Paraísos Artificiais ela funciona como elemento dramático. Não dá para imaginar raves sem música eletrônica; porém, seria curioso observar o personagem de João Miguel cruzar o país em seu caminhão sem a companhia quase onipresente de Roberto Carlos – pontuação assumida pela busca das lágrimas.

Jorge Mautner – O Filho do Holocausto (Pedro Bial e Heitor D’Alincourt), que ganhou Prêmio Especial do Júri, poderia ser uma saborosa conversa do músico com alguns parceiros se o assunto fosse a maturidade. Tempo de reflexão, de avaliação, de pesar o passado – o encontro com a filha Amora é o melhor exemplo. Assisti-lo sob esse prisma desperta enorme prazer. Se avançarmos, encontraremos uma lacuna, pois o filme se esquiva das drogas e da bissexualidade do músico. E, depois do início hesitante, no qual se reporta ao holocausto, que nem é o foco central, embarcamos em um concerto em estável sala de estar. Cinematograficamente, o filme mistura propósitos e caminhos que, ao final, o torna amorfo.

Alguém citou a bela cena do casamento entre os personagens de Daniel Oliveira e Hermila Guedes como um dos acertos de Boca (Flávio Frederico), que levou direção, trilha, atriz e público. É uma cena simbólica do que poderia ser o filme: jogo no qual a aparente normalidade encobre a vida de um criminoso. Tal jogo se repetirá no desfecho e, em ambos os casos, empresta leveza ao filme. No entanto, o diretor, mesmo bem sucedido, deixa escapar a chance de trabalhar mais essa dualidade e pesa a mão. Daniel Oliveira está afetado demais, há problemas na encenação e, em que pese a ótima fotografia de Adrian Teijido, a coloração sépia parece estar unicamente a serviço da estilização da imagem, efeito que contraria um filme com pretensões de buscar o grande público.

Corda Bamba, História de uma Menina Equilibrista (Eduardo Goldenstein) e Na Quadrada das Águas Perdidas (Wagner Miranda e Marcos Carvalho), apesar da diferença na abordagem dos respectivos temas, se aproximam nos propósitos. O primeiro se fundamenta no didatismo das intenções, pois busca lições de modo incessante e em seus caminhos existem apenas o bem e o mal – sem nuances. E, além disso, romantiza o papel do circo e das artes como refúgio das nossas inseguranças e medos. O segundo quer mostrar, também didaticamente, a caatinga do Nordeste. E, apesar do bom resultado na tela, o propósito de ensinar suplanta o desejo pelo risco.

Risco que Estradeiros (Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro) corre o tempo todo. Ganhador do Prêmio da Crítica, e ignorado pelo júri oficial, este documentário certamente não agradará às grandes plateias e caminha na contramão do êxito comercial, ao contrário de Paraísos Artificiais, mas há um ponto de contato entre ambos. Este embarca na viagem lisérgica e sensorial da música eletrônica e nas belíssimas imagens. Aquele, na viagem propriamente dita. Põe o pé na estrada em um mergulho frenético. Inquieto, procura, questiona, se interroga, quer entender e foge ao didatismo e, assim como os ricos personagens, rompe fronteiras geográficas e sensoriais.

O filme é a própria viagem nos encantadores movimentos de câmera, nos cenários grandiosos, na reflexão sobre o tempo e a essência da vida. Seus personagens propõem novo modo de olhar o mundo, mas o filme não os defende. Documenta sem se distanciar, pelo contrário, se aproxima e cria momentos mágicos ao falar da terra, do espaço e dos mistérios. Ao colocar a paisagem de Recife e de Buenos Aires (aqui, até em excesso) de ponta-cabeça as imagens mexem com nossas certezas. O mundo de cabeça para baixo dá o tom de vertigem ao filme.

 Os curtas-metragens

A posição conservador marcou também o júri em relação aos curtas. Justiça seja feita: a seleção estava bastante precária, em que pese o número – dezoito – de concorrentes. Porém, premiar Até a Vista (Jorge Furtado) como melhor filme, além de lhe entregar três outros prêmios, foi excessivo. O curta, assim como À Beira do Caminho, é simpático, tem diálogos bons (especialidade do diretor), porém está mais próximo de uma piada, além de ter sido filmado sem grande inspiração.

E valorizou dois curtas que estão mais preocupados em passar “mensagens” do que fazer cinema. L (Thais Fujinaga) e A Fábrica (Aly Muritiba) são bem produzidos e até conseguem criar atmosferas interessantes nos respectivos cenários, porém embarcam na proposta de fazer arte bem intencionada e a usam como meio – arte utilitária.

Se Breno Silveira, como longa-metragista, quer o mercado (e tem todo o direito de desejá-lo), que se entregue ao melodrama descomplicado, cheio de boas intenções e faça muito público. Aliás, torço para que isso aconteça, pois uma cinematografia forte deve ter espaço para os diversos gêneros.

Mas o curta-metragista começar a carreira fazendo “filmes do bem” é um equívoco. O curta serve de espaço para o experimento e o aprendizado, que nascem do perigo, nunca da comodidade. Filme que pretende ensinar alguma coisa deve ser exibido em escolas. Filmes que querem sensibilizar o espectador com recadinhos positivos devem ser mostrados em igrejas.

Dos dezoito curtas, destaco três. O bonito Dia Estrelado (animação pernambucana de Nara Normande) não é feliz no desfecho, mas prima pelo cuidado na realização e detalhista, não apenas tecnicamente, mas nos temas que suscita. Na Sua Companhia (Marcelo Batista Caetano) aborda o universo gay com naturalidade, como se recusasse o espectro de gueto. E o faz com competência e segurança. Por último, Isso não é o Fim (João Gabriel), que levou o Prêmio da Crítica, evita o conforto nos tons escuros, na marginalidade dos personagens, no tema difícil e, ainda assim, se resolve muito bem a partir da fotografia, da montagem, do bom ator e ao apresentar seres humanos de carne e osso.

*Crítico de cinema do jornal Correio Popular de Campinas.

 

E outra avaliação ampla

Por Luiz Zanin

Muito interessante esta 16ª edição do Cine PE. A mais interessante, talvez, desde antigamente, quando comecei a ir (vou desde o primeiro, chamava-se Festival do Recife, fui júri, junto com Janaina Diniz Guerra, e conheci o pessoal do Árido Movie). Isso para dizer que, sem forçar muito a memória, foi provavelmente a melhor edição, em termos de filmes concorrentes.

Edição equilibrada, dentro da proposta do festival, de mesclar filmes mais populares (porém de qualidade) a outros mais “fechados” e autorais.

Neste ano conviveram filmes românticos como À Beira do Caminho, de Breno Silveira (venceu o festival) e o experimental Estradeiros, de Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro (levou o prêmio da crítica).

É possível ver qualidades em ambos, embora, do meu ponto de vista, o primeiro se perca um pouco por excesso de sentimentalismo e Estradeiros invista mais no trabalho formal. Na entrevista, respondendo a uma pergunta minha, Renata Pinheiro disse estar farta de filmes que trabalham com determinado tipo de personagem, mas não o incorporam à sua linguagem, o que seria um equívoco ético, mais que estético. Tendo a concordar, embora tenha de pensar melhor na questão. Em Estradeiros, os personagens são seres à deriva (o sentido não é pejorativo, ao contrário) e de vida fragmentária. A linguagem do filme adere a essas características.

Ao lado desses dois extremos, muitas etapas intermediárias, como o etnográfico Na Quadrada das Águas, de Wagner Miranda e Marcos Carvalho, tendo como único ator Matheus Nachtergaele. Vive o sertanejo que sai de sua casinha para vender um animal e, com o dinheiro, comprar o que precisa. Rapadura, fumo de corda, feijão, pregos, essas coisas. A viagem é uma verdadeira iniciação na natureza da caatinga, da qual o sertanejo tira o essencial para sobreviver, nas mais áridas condições. Já o tinha visto no Cine Ceará do ano passado; revi com gosto. Acho algumas críticas de colegas injustas para com o filme. É um documentário sobre a caatinga, que veste a roupa da ficção e conta com um ator que tudo diz sem pronunciar uma única palavra. Não me parece pouca coisa.

Houve também o documentário de Jorge Mautner, dirigido por Pedro Bial. Um belo trabalho, com pesquisa de imagens de arquivo, resgate de um antigo filme dirigido por Mautner nos anos loucos em Londres e uma exposição do personagem sob a forma de um espetáculo, como se estivéssemos num palco. Enriquece a figura de Mautner, com sequências muito legais. Por exemplo, o diálogo entre ele e a filha Amora, com a moça cobrando do pai coisas passadas em sua infância. A começar pelo nome, que os pais achavam muito lindo e original, mas que valeram à garota as previsíveis gozações na escola. Ela também não gostava que o pai andasse nu pela casa. É, ser filha de maluco beleza não deve ser mole mesmo.

Tudo somado, o documentário é revelador e comovente. Tem coisas a dizer mesmo para quem pensa que conhece tudo de Mautner. E é uma boa apresentação a quem não o conhece. Na entrevista, falei com Bial, que não conhecia pessoalmente. Me pareceu alguém simpático e inteligente. Não se furtou a responder perguntas mais complicadas sobre a sua persona pública de Mr. Big Brother e mostrou familiaridade ao falar sobre cinema. Foi legal.

Paraísos Artificiais, de Marcos Prado, me pareceu o mais…artificial deles todos. Penso nele e sua ousadia (com drogas,  sexo e música techno) e me parece um pouco radicalismo de boutique, estetizada. E devidamente apaziguada no fim. No entanto, não é indigno de maneira nenhuma. E há quem goste dele, tanto assim que foi muito bem premiado pelo júri oficial. Não me convenceu. A foto (de Lula Carvalho, premiado) me parece melhor do que o projeto em seu todo.

Melhor, a meu ver, e completamente ignorado pelo júri, foi o infanto-juvenil Corda Bamba, de Eduardo Goldenstein. Onírico, circense, felliniano, trata de forma poética as fantasias do luto de uma garota. Muito bonito visualmente, lembra demais o mundo de imagens de Fellini, embora as referências também sejam variadas. Mas, quer saber?, referências são importantes para nós, muito menos para o público. Interessa mais a maneira inspirada como o filme é construído.

Por fim, Boca, de Flávio Frederico, uma bela imersão na São Paulo noturna dos anos 50 e 60 através da biografia do criminoso Hiroito de Moraes Joanides, o chamado “rei da Boca do Lixo”. Pois foi com esse título – Boca do Lixo – escrito na cadeia, que Hiroito se tornou conhecido de muitos paulistanos, de mim, inclusive.

Lembro-me de haver lido o livro na adolescência e algumas passagens ficaram na memória. Uma delas, a fuga de Hiroito, frenética, pois ele não podia parar para dormir e descansar, pois seria preso. À base de Pervetin na veia, passou semanas sem praticamente parar o carro, vagando de um lado a outro, dentro de São Paulo, como um tubarão sem repouso.

Frederico usa um pouco essa sequência no filme. Abre e fecha com ela. Talvez pudesse ter absorvido esse tom lisérgico na narrativa, mas ela já é, de fato, muito frenética: em boa parte devido a interpretação de Daniel de Oliveira, muito boa, um camaleão, que se altera de personagem a personagem. Sua parceira também parece saída de um autêntico noir – Hermila Guedes, como a prostituta que se converte em companheira do bandido.

Gosto muita da fotografia (Adrian Teijido) e do clima geral do filme: um baixo orçamento que disfarça muito bem suas dificuldades de produção.

Entre os curtas, alguns destaques:

Até a Vista, trabalho inteligente e bem humorado de Jorge Furtado. Graça, informação literária, boa construção de personagens, na história do rapaz que procura o autor argentino para lhe adaptar um romance. O cachê é ser ciceroneado numa viagem ao Brasil para se reencontrar com um antigo amor. Uma delícia.

Isso não É o Fim, de João Gabriel, ambientado no Baixo Augusta, sobre o homem que aluga seu banheiro por um real. Basfond paulistano, filmado por um baiano, capta bem o espírito (se o termo cabe) da nossa querida Augusta, para os lados do Centro, não dos Jardins. Foi o escolhido pela crítica.

Na Sua Companhia, de Marcelo Caetano (o mesmo de Bailão), uma imersão na cena gay que produziu incômodos no cinema. Enfim, preconceitos estão aí e o cinema apenas os põe a nu. Não há nenhuma grosseria, mas o tema ainda parece tabu.

Di Melo – o Imorrível, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro, sobre a trajetória de Di Melo, o cantor que tendo gravado apenas um disco nos anos 70, tornou-se uma lenda. Submersa, mas lenda. Di Melo é uma figuraça, irreverente como Tim Maia, mas o filme não se apoia apenas nele. Muito bem construído, filmado e montado, levou a galera ao delírio.

Deixo de comentar alguns curtas, pois já passaram por vários outros festivais, como são os casos de Qual Queijo você Quer?. A Fábrica e L. Têm qualidades, mas já estão muito repetitivos.

Por fim, gostaria de ressaltar o destaque dado pelo festival ao nosso júri da crítica. Ao longo do evento o prêmio foi anunciado pela apresentadora, junto com os outros. No dia da premiação, a crítica teve lugar de destaque, os nomes dos vencedores sendo lidos no mesmo segmento dos ganhadores do júri oficial e do público da respectiva categoria. Isso valoriza demais tanto a premiação da crítica quanto a do público. Quanto a esta, o Cine PE também inovou: foram escolhidas 42 pessoas, que votaram nos filmes de sua preferência. Isso evita o problema de outros anos, quando se votava indiscriminadamente nos totens dispostos para esse fim no saguão. O critério valoriza o prêmio.

Todos eles, aliás.

Festival termina com balanço positivo

Por Neusa Barbosa, de Recife (para o site Cineweb)

Se foi uma edição perturbada por dois lamentáveis problemas de projeção – atingindo o curta Boca e também o concorrente carioca À Beira do Caminho, de Breno Silveira -, também se registrou aqui uma amostra respeitável de gêneros cinematográficos e do momento de transição que vive o cinema do País.

Pode ser que 2012 seja um daqueles “anos críticos”, para citar colocação feita aqui há dias por Cacá Diegues, mas há razões para ser otimista, como o diretor de Xica da Silva e Deus é Brasileiro não cansa de repetir.

Uma parte considerável desse otimismo decorre da notável última noite da competição, que alinhou um filme de gênero e de época muito bem-realizado tecnicamente e muito responsável no que atingiu, Boca; uma ficção regional que se alimentou na veia dos nutrientes básicos do documentário, Na Quadrada das Águas Perdidas, em que o ator Matheus Nachtergaele, um dos melhores do País, interpreta um catingueiro da região do rio São Francisco interagindo criativamente com um meio inóspito e uma série de animais, embalado por uma trilha sonora de primeira (Elomar, Geraldo Azevedo e grupo Matingueiros);  e o original documentário Estradeiros, em que os diretores radiografam a tribo alternativas dos nômades da era moderna, que diluem as fronteiras dos países da América Latina e das próprias nacionalidades num vai-e-vém incessante, recusando o assentamento e integração com o modo de vida urbano e consumista predominante.

Realizado pelos diretores do criativo curta Praça Walt Disney, este último longa materializa a alteridade de seus personagens com uma linguagem estética filtrada por transparências e superposições que reforçam seu sentido – e que evocam o ultrapremiado curta da diretora Renata Pinheiro, Superbarroco.

Revisitando Van Gogh

Entre os curtas, Dia Estrelado, da estreante Nara Normande (PE), animação em stop-motion de bonecos de massinha, lança um original olhar sobre A Noite Estrelada de Van Gogh, transformando-a num dia de sol incessante do sertão nordestino, numa comunidade obcecada pela busca de água, mas de onde não desapareceu nem a perseverança nem o sentido do lúdico e da beleza – como demonstra o esforço de um menino para regar a única flor com lágrimas, suas ou de outros.

Os outros curtas foram A Fábrica, de Aly Muritiba, sobre uma mãe que leva um celular na prisão para o filho, e que percorreu inúmeros festivais, inclusive internacionais, e Sonhando Passarinhos, de Bruna Carolli (DF), este mais um exemplar do cinema infantil que esteve bem representado neste festival, inclusive com um longa de bastante personalidade, Na Corda Bamba – História de uma Menina Equilibrista, de Eduardo Goldenstein.

É certo que houve diversidade na seleção de longas – a de curtas deixou um pouco a desejar. Houve representantes dignos de um cinema que aspira um diálogo maior com o público, caso especialmente do longa À Beira do Caminho, um melodrama encharcado de músicas de Roberto Carlos e protagonizado por outro dos maiores atores brasileiros hoje, o baiano João Miguel, que bem faria jus a um prêmio.

Paraísos Artificiais, de Marcos Prado (RJ) também aspira a um contato direto com um público específico, o jovem, que poderá talvez sintonizar melhor os sentimentos fragmentados de uma geração sitiada por excesso de informação e que procura sua utopia de prazer sensorial em delírios sintéticos.

Queimou o filme do Cine PE

Por André Dib (para o jornal Diário de Pernambuco – 03/05/2012)

Mote do 16° Cine PE, a brincadeira com 2012 e as profecias do fim do mundo perderam a graça. Havia um consenso de que esta edição do festival seria acima da média, com bons filmes, menos celebridades e mostra local levada ao Teatro Guararapes. Até a exposição de Angeli, no lugar dos bonecos gigantes do ano passado, contou a favor.

O que ninguém poderia prever é que, da abertura com À Beira do Caminho, de Breno Silveira, ao encerramento, anteontem, o evento amargaria uma série de problemas na projeção dos filmes. Desta vez, foram os curtas da mostra competitiva. Na noite de terça, dois deles foram interrompidos por problemas na execução dos arquivos digitais.

O improviso faz parte de qualquer festival, mas este ano foi demais. A começar pelo acesso da produção ao Teatro Guararapes na abertura do evento, que ocorreu somente no fim do dia, impossibilitando fazer testes de projeção.

Nunca houve tantos erros na história do Cine PE. Diretores expressavam medo de que seus filmes fossem o próximo a falhar publicamente. Explicações foram dadas. Relativizou-se com casos semelhantes ocorridos em outros festivais. Providências foram anunciadas para o ano que vem. Tudo isso pode ser compreensível para jornalistas, produtores e demais convidados. E o público, como fica? Depois de tantos erros e sessões canceladas, era compreensível pensar duas vezes antes de sair de casa.

Seria essa a razão das sessões esvaziadas? Em anos anteriores, a sala estava sempre lotada. O cenário mudou. Outros motivos podem ser levantados, como o fato de o evento ser realizado em pleno feriadão e o intenso fim de semana anterior às exibições – com shows de Paul McCartney, Chico Buarque e o Abril pro Rock. Sintomático que, antes de chamar os diretores Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro, do pernambucano Estradeiros, último longa apresentado na competição, Alfredo Bertini fez um apelo humilde à plateia, em torno de 800 pessoas: “Continuem prestigiando o Cine PE”. Eis o maior risco assumido pelo Cine PE deste ano. Reduzir seu maior capital – o público.

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