Dossiê 43ª Mostra SP: Livro Mulheres Atrás das Câmeras

Livro resgata o trabalho das mulheres no cinema brasileiro

O livro “Mulheres Atrás das Câmeras – Cineastas Brasileiras de 1930 a 2018” reúne 27 textos em uma coletânea, além de um dicionário ao final, com 265 verbetes. As organizadoras são Luiza Lusvarghi e Camila Vieira da Silva, tendo como editoras colaboradoras Marina Costin Fuser e Roni Filgueiras. A publicação, editada em parceria com a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), teve lançamento pela editora Estação Liberdade.

O objetivo é resgatar o trabalho das mulheres no cinema brasileiro, sendo o foco preferencialmente na categoria do longa-metragem. Esta coletânea traz oito ensaios e 19 artigos sobre as cineastas mais proeminentes, em uma seleção realizada conjuntamente pelas autoras e organizadoras.

Esta obra preenche uma lacuna na história do cinema brasileiro, resgatando nomes de mulheres que foram tanto as pioneiras no setor como as que têm se destacado recentemente. Seu conteúdo pode se tornar objeto para pesquisas futuras. Conforme é apresentado desde o início do livro, a desigualdade não se mostra apenas no menor número de realizadoras em relação aos homens, mas também na constatação de que o trabalho cinematográfico produzido pelas mulheres também recebeu menos atenção da mídia e da academia.

Os 27 artigos estruturam esta produção por meio de ensaios com recortes temáticos ou focados em figuras de destaque. Um critério elencado para ter o nome nesta seleção foi ter pelo menos três longas-metragens concluídos e lançados. O outro foi a relevância de alguns eixos temáticos, como comédias, documentários, erótico, experimental, horror, social, lésbico e negro.

O livro acompanha a história do cinema e o progressivo aumento da presença feminina, ressaltando períodos como a década de 1970, com a Embrafilme, e, após a era Collor, a chegada do século XXI. Entre as pioneiras, se pode citar Cléo de Verberena, primeira diretora de um filme, “O Mistério do Dominó” (1930); Carmen dos Santos, produtora e atriz; Gilda de Abreu, a roteirista de “O Ébrio” (1946); e a atriz e diretora assistente Gita de Barros, que trabalhou ao lado do marido, Luiz de Barros. Entre as que abriram caminho para futuras gerações, também recebe destaque a primeira realizadora negra, Adélia Sampaio (1984), com “Amor Maldito”. Helena Ignez se tornou um ícone, seja na frente ou atrás das câmeras. No cinema da retomada, a partir dos anos 1990, Carla Camurati é outro nome que não se pode esquecer.

Entre o trabalho das diretoras em atividade, Anna Muylaert, Lucia Murat, Laís Bodanzky e Suzana Amaral são algumas que motivaram textos. Também se reconhece as campeãs de audiência, como Cris D’Amato, de “S.O.S – Mulheres ao Mar” (2013), e Julia Rezende, de “Meu Passado Me Condena” (2013), e as suas respectivas comédias de sequência, ambas coincidentemente em 2015.

As mulheres que assinam os ensaios deste livro são as seguintes (em ordem alfabética): Amanda Aouad Almeida, Beatriz Saldanha, Camila Suzuki, Camila Vieira da Silva, Cecilia Barroso, Denise Costa Lopes, Elen Doppenschmitt, Flavia Guerra, Iomana Rocha e Nina Velasco e Cruz, Isabel Regina Augusto, Isabel Wittmann, Janaína Oliveira, Julie Nunes, Karla Holanda, Luiza Lusvarghi, Maria do Rosário Caetano, Mariana Tavares, Marina Cavalcanti Tedesco, Marina Costin Fuser, Monica Kanitz, Neusa Barbosa, Patricia Rebello, Roni Figueiras, Nayara Renaud, Samantha Brasil e Suyene Correia Santos.

Conforme conclui Paulo Henrique Silva (p.13), “A mulher, hoje, é uma presença incontestável no cinema brasileiro”. Ele é o único homem a escrever na apresentação do livro pela sua condição de presidente da Abraccine durante o período de produção da coletânea. A pesquisa constata o aumento da presença feminina como resultado da entrada e da popularização das tecnologias digitais, da criação de coletivos de produção e de redes de articulação e resistência.

Esperamos que este livro possa ser, em breve, revisto e ampliado, com novos nomes de realizadoras a se estabelecerem no Brasil. E que os avanços obtidos até o presente momento não retrocedam.

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