A Rua muda, de Eduardo Colgan

Pedro Plaza Pinto* Vencedor do prêmio Mirada Paranaense do 6° Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba “– Que tempos!”, desabafa delicadamente o fotógrafo, um dos personagens de A Rua muda (Eduardo Colgan, 2017). A cena precede o final do curta e o comentário é sucedido de nova saída do grupo de amigos que, com…

O enigma sírio

Adriano Garrett * A programação de mais de 120 filmes oferecida pelo 6º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba – trouxe ricas possibilidades de diálogo entre as obras exibidas. Um cotejo interessante pode ser realizado tomando como ponto de partida dois longas-metragens relacionados à temática da Guerra Civil Síria: de um lado, o…

Um Olhar de Cinema

Amanda Aouad * A desigualdade no mundo é um tema recorrente em expressões artísticas e pode servir para resumir o que vemos em Máquinas, documentário indiano que retrata a realidade de fábricas de tecidos na Índia. Jovens e crianças, principalmente, exploradas das maneiras mais cruéis em contraste com a realidade dos seus patrões e produtos…

Olhar de Cinema 2017

Chico Fireman * Foi meu segundo ano no Olhar de Cinema, em Curitiba, e o festival já me parece um dos mais interessantes realizados no Brasil, sem dever nada ao que se promove no Eixo Rio-São Paulo. Entre os principais destaques desta edição, estava uma mostra realmente espetacular dedicada ao alemão F.W. Murnau, que sob a…

Festival Olhar de Cinema 2017

Pablo Villaça * Quem me acompanha há algum tempo sabe que sou obrigado a viajar muito a trabalho para ministrar cursos ou cobrir festivais. Este excesso de viagens já deixou de ser agradável há alguns anos – e tenho pavor crescente de quartos de hotel. Assim, quando surge algum convite para uma viagem adicional, penso…

Laerte-se

Marcelo Müller * A dramatização da factual relutância da cartunista e chargista Laerte Coutinho em começar a documentar a própria vida não é um dado gratuito em Laerte-se. Ela dá conta de um traço característico e insuspeito da personalidade dessa artista consagrada que assumiu a transexualidade aos 57 anos, algo explorado frequentemente pelo longa-metragem dirigido…

Um balanço porque balanço é movimento

Cesar Zamberlan * Depois de ter visto, analisado e discutido com os colegas do júri todos os filmes que fizeram parte da mostra competitiva brasileira do É Tudo Verdade, chega a hora de fazer um balanço do panorama que nos foi apresentado e alguns pontos merecem ser destacados. Como os colegas já trataram do conjunto…

Balanço Curtas – ETV

Cássio Starling Carlos *   A visão em conjunto dos nove curtas-metragens da competição brasileira do É Tudo Verdade reitera a percepção, já registrada a respeito dos longas, de que a maior parte dos trabalhos selecionados tende a buscar moldes testados e garantidos. Resta descobrir se esta é uma perspectiva gerada pelos valores priorizados na…

Da relevância e do interesse

Camila Vieira * Eis um problema recorrente no documentário contemporâneo: confiar que basta tema relevante ou personagem interessante para realizar bom filme. Dentro da mostra competitiva de longas-metragens do 22º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, cinco dos sete títulos caíram nesta armadilha de se deixar seduzir pela pertinência temática de algum tema de…

Clara – a doença como metáfora em Aquarius

Luiza Lusvarghi* Nos primeiros longos minutos de “Aquarius”, percebemos, em meio a uma festa familiar, que Clara, a protagonista, vivida na juventude pela atriz mineira Bárbara Colen, e na maturidade por Sonia Braga, acaba de sobreviver a um câncer. E também que pertence a uma tradição familiar de mulheres ousadas e libertárias, que não se…

Aquarius

Carol Almeida* “Como eu poderia saber que esta cidade foi feita na medida do amor? Como eu poderia saber que você foi feito na medida do meu corpo?”, Ela pergunta em Hiroshima mon amour. No filme de Alain Resnais, é o amor entre duas pessoas o grande arquiteto da cidade, a régua que irá redesenhar,…

Clara e a resistência

Ângela Prysthon* Uma das recorrências mais marcantes do cinema de Kleber Mendonça Filho é a tentativa de ruptura com certo padrão de caracterização regional que tenderia ao folclórico e ao caricatural. Ainda que apareçam a “cor local”, o sotaque, a crônica urbana recifense, seus filmes evitam a celebração efusiva dos tipos regionais, o determinismo naturalista…

Uma mulher, suas memórias e o dever de resistir

Luciana Veras* “Aquarius é um filme sobre memória e sobre história, que não são muito valorizadas na nossa cultura”, define o realizador pernambucano Kleber Mendonça Filho. É, portanto, do acúmulo e da ação do tempo e das camadas de significados das lembranças – de uma mulher e seus objetos, de um apartamento, de uma cidade…

Do arquivo ao filme: sobre Já visto, jamais visto

Patrícia Mourão* Nós somos desertos, mas povoados de tribos, faunas e floras passamos nosso tempo a arrumar essas tribos, a dispô-las de outro modo, a eliminar algumas delas, a fazer prosperar outras. E todos esses povoados, todas essas multidões não impedem o deserto, que é nossa própria ascese; ao contrário, elas o habitam, passam por…

Serras da Desordem

Ricardo Calil O assombro causado pela primeira exibição de “Serras da Desordem”, na Mostra de Cinema de Tiradentes de 2006, é inesquecível. Os espectadores saíram da sessão parecendo mais desnorteados que Carapiru, o índio que vagou sem rumo por 2.000 quilômetros depois de ter sua aldeia dizimada por fazendeiros. Críticos balbuciavam palavras desconexas tentando dar…

Carelli / Tonacci

Vincent Carelli* Conheci Andrea Tonacci em 1977, quando ele procurou o Centro de trabalho Indigenista (CTI), onde eu trabalhava, para pedir uma ajuda para a formatação de um projeto para a Guggenheim chamado Inter Povos. Sua proposta era usar o vídeo, e nesta época o vídeo portátil ainda estava muito no começo, para criar uma…

Quase memória

Inácio Araújo* Antes de entrar no assunto “Já Visto, Jamais Visto” me parece pertinente esclarecer algumas coisas que tentei falar em Tiradentes e desenvolver um pouco no post anterior sobre Andrea Tonacci. “Bang Bang” trabalha a ruína de um cinema clássico a partir, em grande parte, de Godard. O que temos ali é um filme…

Já visto, jamais visto

Sérgio Alpendre* A vida também é feita de coisas deixadas pelo caminho. Muitas delas deixam de fazer sentido, ou se mostram inviáveis diante de nossas incertezas e contradições. Quem não teve de abandonar sonhos, desejos, projetos, é porque nunca sonhou, desejou, projetou, nunca quis entender para que diabos viemos ao mundo. Já Visto Jamais Visto…